sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Forte golpe nos parlamentares infiéis

Passou meio despercebida, mas a matéria da Folha Online de ontem (25/12) relata que o TRE-SP cassou 44 vereadores de diversas cidades paulistas por infidelidade partidária.

Em um país onde as as leis costumam ser muito boas, mas que dificilmente são seguidas ou respeitadas, tal notícia é motivo de comemoração. Pelo jeito, o caso do deputado cassado em Brasília por esse mesmo motivo abriu um importante precedente que vai ajudar a dar um basta na fanfarra que são as relações entre partidos e políticos no país.

Que essa tendência realmente se mantenha.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Uma sapatada que resume tudo

É bem provável que o jornalista iraquiano Muntazer al-Zaidi torne-se um novo heroi do mundo árabe.


Este é o nome da pessoa que fez o que muita gente mundo afora gostaria de ter feito e nunca teve coragem. Atirou um sapato no atual presidente dos EUA, Geroge W Bush, durante entrevista coletiva em Bagdá, Iraque. Antes, disse: "Este é o beijo de despedida, cão". Na cultura árabe, atirar um sapato em alguém é uma grave ofensa, o que mostra o tamanho da raiva de al-Zaidi em relação a Bush. O mesmo se diz a respeito de xingar alguém de “cão”.
Atualmente detido, já existem no país manifestações de apoio ao jornalista, pedindo sua libertação. E se o jornalista não conseguiu acertar Bush fisicamente, acertou bem no alvo em outros aspectos.


O episódio é emblemático do quão grande é o ódio despertado por Bush mundo afora, especialmente entre os árabes. Coroa uma administração marcada como desastrada em todos os sentidos para os EUA: econômico, social, e no cenário político nacional e internacional. Pior para Barack Obama, que assume a presidência em 20 de janeiro com uma planatação de abacaxis para descascar. Entre eles, cumprir a promessa de retirar as tropas estadunidenses do Iraque.

Agora, se Obama realmente vai conseguir isto, aí já é uma outra história.

sábado, 13 de dezembro de 2008

13/12/2008 - Uma data para o Brasil acertar as contas com seu passado




Previsão do tempo:

Tempo negro.

Temperatura sufocante.

O ar está irrespirável.

O país está sendo varrido por fortes ventos.

Máx.: 38º, em Brasília.Mín.:5º, nas Laranjeiras.

(Publicado no Jornal do Brasil, no dia seguinte à decretação do AI-5)


Com essas palavras, o Jornal do Brasil, há 40 anos, anunciava o começo de uma das páginas mais tristes da história recente do Brasil: a imposição por parte da ditadura militar do Ato Institucional nº5, o famigerado AI-5.



O Ato representou o começo da fase mais sombria do regime militar no Brasil, os chamados Anos de Chumbo, que vão do fim do governo Costa e Silva (1967-1969) ao governo do general Médici (1969-1974). Com ele, o Congresso Nacional e as Assembléias Legislativas estaduais foram colocados em recesso, e o presidente, à época o general Costa e Silva, passou a ter plenos poderes para cassar mandatos eletivos, suspender direitos políticos, suspender o habeas-corpus em crimes contra a segurança nacional, legislar por decreto, julgar crimes políticos em tribunais militares, dentre outras medidas autoritárias.



Paralelamente, nos porões do regime, o pau comia solto em cima daqueles que ousava levantar a voz contra o regime. Generalizava-se o uso da tortura, do assassinato e de outros desmandos. Tudo em nome da "segurança nacional". E até hoje, certas instituições em funcionamento no Brasil ainda não se livraram de todo de certos traços desse período. Basta ver a conduta de certos policiais militares (claro, não se pode generalizar) em cidades como Rio, São Paulo ou em Recife.

E justamente no final de um ano consagrado na história mundial e na do Brasil como um momento de grande contestação da política e dos costumes. Uma forma nada animadora de encerrar 1968, recheado de manifestações ao redor do mundo e considerado “o ano que não terminou”.


Enquanto isso, os militares entoavam slogans de “para frente, Brasil!”, ou “Brasil, Ame ou Deixe-o!” e a seleção de futebol conquistava o tricampeonato mundial de futebol no México (1970). Talvez na época grande parte do povo, contagiada pelas conquistas do futebol e pela ilusão do “milagre econômico”, não enxergasse o que se passava na surdina, nas batidas realizadas pela polícia na calada da noite contra os opositores ao regime. Hoje, vê-se o tamanho da hipocrisia propagada pelos militares.

Na edição de hoje (sábado, 13/12/2008), o jornal Folha de S.Paulo informa, através da pesquisa Datafolha, um dado já esperado. Oito em cada dez brasileiros (82%, segundo o levantamento) nao sabem o que foi o AI-5. Isso se deve, em grande parte, ao fato do Brasil ser um país despolitizado, onde a política passa longe do cotidiano da maioria da população. O ensino de péssima qualidade, com livros didáticos contendo erros sobre o episódio ou até mesmo omitindo-o, também ajudam.

Felizmente, com o passar do tempo percebeu-se o grande salto para trás que o AI-5 representou para o Brasil, politica, cultural e historicamente.


A data é de extrema importância para o Brasil, um dos poucos países da América Latina (se não for o único) que ainda não acertou completamente suas contas com o passado. A abertura dos arquivos da época, antiga demanda das organizações de Direitos Humanos e da sociedade civil, continua emperrada na burocracia e na falta de vontade política – alguns dos que nela ainda atuam são remanescentes dessa época e, pelo jeito, estão cheios de culpa no cartório. A Lei da Anistia, aplicada em 1979, acabou sendo uma faca de dois gumes, livrando a cara de torturadores ao mesmo tempo em que a ditadura mostrava sua “abertura lenta, gradual e segura” e começava a afrouxar suas rédeas em uma tentativa de sobreviver a um contexto histórico que já condenava o regime à morte. Hoje, há uma intensa luta de setores organizados da sociedade para tentar reparar essa dívida histórica e unir, de alguma forma, os autores das atrocidades.


Independente de haver ou não na população, é de suma importância que seja feito esse acerto de contas com o passado. Países que viveram ditaduras até mais sangrentas que a brasileira, como a Argentina e o Chile, já o fizeram.

Enquanto não houver esse acerto de contas com seu passado, o Brasil não se livrará dos traumas e vícios que até hoje, de uma forma ou outra, continuam presentes na sociedade. Está mais do que na hora de o Brasil seguir o mesmo caminho e expor o que foi, de fato, os anos de chumbo por aqui, doa a quem doer. A sociedade merece essa satisfação.



É importante relembrar e enfrentar esse passado também como forma de valorizar as conquistas obtidas após a ditadura e que, bem ou mal, são usufruídas hoje pelos brasileiros. E para mostrar também que tais conquistas não vieram de graça. Foram à custa de prisões, gritos, choques elétricos, lágrimas e sangue.


Abaixo, alguns links para consulta:


Especial da Folha Online sobre o AI-5
http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2008/40anosdoai5/

Outras fontes

http://www.cpdoc.fgv.br/nav_fatos_imagens/htm/fatos/AI5.htm http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/index.php?storytopic=378

Integra do AI-5

http://www.unificado.com.br/calendario/12/ai5.htm

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

60 anos depois.... o que mudou???

Em 1948, foi aprovado pela Assembléia Geral da ONU aquele que é considerado por alguns o documento mais importante já escrito pelo homem: a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Sua criação tornou possivel e palpável uma outra concepção de tratamento ao ser humano, que ainda sentia os traumas das atrocidades comentidas especialmente durante a Segunda Guerra Mundial, encerrada tres anos antes.

Pela primeira vez, vários países do mundo se uniam em torno de um documento universal que estabelecia uma escala de valores a ser respeitada por todas as pessoas e todos os países do mundo. E cujo primeiro artigo ditava: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade".

Infelizmente, ainda é grande a discrepância entre teoria e realidade. Apesar do documento, não faltaram atrocidades nos últimos 60 anos. Para citar apenas dois exemplos, ambos genocídos cometidos pós-1945: a Guerra na Bósnia, com o massacre de Srebrenica, e o genocídio em Ruanda. Na atual década ainda, sob o pretexto de “combate ao terrorismo”, o conceito de Direitos Humanos mais uma vez foi colocado em planos inferiores.

Mas são inegáveis os avanços que a Declaração trouxe. Amparo jurídico, social, medidas concebidas a partir do documento existem aos montes pelo mundo afora. Falta ainda, é claro, a plena aplicação desses preceitos. Mas uma coisa é certa: se a situaçaõ dos Direitos Humanos não é das melhores hoje no mundo, sem a Declaração Universal ela seria muito pior.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Linhas, sinais e vidas cruzadas


Um mundo de dados, informações, palavras e vozes passam diariamente bem diante de seu nariz. E não os confunda com os que você costuma ver ou ouvir ao andar em megalópoles caóticas como São Paulo. Até porque não é possível enxergá-lo. Para ouvi-lo, só com aparelhos especiais. É um trânsito invisível a olho nu, mas que não deixa de existir por isso.

Ele é composto por redes de Internet sem fio, transmissão de dados via celular, sinal das rádios comerciais, piratas e comunitárias, walk-talkies, entre outras.. Ou seja, existe no ar paulistano muito mais do que oxigênio, nitrogênio e doses excessivas de monóxido e dióxido de carbono e outros poluentes.

Claro, esse trânsito não se dá sem trombadas, atropelos ou qualquer outro tipo de interferência. E se esse emaranhado de dados não circular com um mínimo de planejamento, traz problemas graves e algumas aberrações que rendem histórias engraçadas de um lado, e expõem irregularidades do outro.

No caso das rádios, ele fica bem evidente pelo caos que é o espectro paulistano (por onde circulam os sinais, também conhecido como dial). Ao todo, 39 emissoras comerciais transmitem sua programação para a cidade de São Paulo, a maioria delas na região da avenida Paulista. Mas, na verdade, nem todas as emissoras que operam em São Paulo são paulistanas ou poderiam transmitir para a capital. Há rádios cujas sedes e/ou antenas de transmissão estão registradas em cidades vizinhas como Guarulhos, Arujá, Mogi das Cruzes ou até mesmo Itanhaém, no litoral paulista, o que é ilegal segundo a legislação vigente no país. Essa artimanha usada para driblar a lei acaba por sobrecarregar o dial de São Paulo, o que contribui para aumentar a confusão.

Essa aberração produz o seguinte efeito: enquanto os sinais se acotovelam na bagunça do dial buscando sonorizar seu conteúdo nos aparelhos de som, o ouvinte trava uma batalha com o botão que muda de uma estação de rádio a outra. E muitas vezes acaba sem conseguir aquela sintonização perfeita da emissora onde é veiculado seu programa favorito.

Um exemplo de onde isso ocorre é a avenida Paulista, local de maior concentração de emissoras de rádio na cidade. Quanto mais chega-se perto e adentra-se nesse corredor de concreto considerado cartão-postal de São Paulo, pioram os sinais das rádios. Em vez da música preferida, o que chega ao ouvinte são chiados ou um sinal intermitente. O que não deixa de ser irônico, pelo fato dos sinais estarem tão próximos do transmissor de sua origem.

O ar também é povoado pelos sinais emitidos pelos milhões de aparelhos de telefone celular em operação. São 140 milhões em todo o território nacional, 60 milhões deles só em São Paulo. O iPhone 3G, mais nova coqueluche no mercado, deve ajudar a aumentar esse número.

Sinais se trombam, ligações se cruzam, e na mesma hora que um executivo inicia uma chamada importante para fechar aquele negócio com uma multinacional, um “boi” daqueles pode entrar na linha e ele então perceber-se ouvindo a briga de um casal pelo celular.


Em um mundo cada vez mais virtual, onde o próprio ar faz cada vez mais a função antes desempenhada apenas pelos fios de cobre ou pela fibra óptica, o caso corrido com Rafael não deixa de ser uma maneira de engraçada de vidas se cruzarem nesse cotidiano plugado de século XXI.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Sobre a condenação de Daniel Dantas

O texto abaixo, do meu amigo João Villaverde, é uma bela análise da condenação de Daniel Dantas, anunciada hoje, e do que pode acontecer no decorrer dessa história que mexe com as estruturas arcaicas desse país - e que é do interesse de certos poderosos que se mantenha assim.

Estamos chegando no clímax de uma história que começou nos anos 80 e que veio ao mundo em 1997. São 11 anos de conchavos entre empresários, banqueiros, políticos, jornalistas, policiais e juízes. Em 1997, o banco Opportunity, criado por Dantas, pagou apenas 250 milhões de reais pelo porto de Santos, o maior da América Latina. Em apenas um dia, o porto de Santos movimenta mais dinheiro que seu valor de venda.

Em 1998, o Opportunity aglutinou o dinheiro do Citibank - então o maior banco privado do mundo -, dos fundos de pensão de estatais, e da Telecom Italia - pertencente ao maior grupo empresarial italiano - e arrebatou a Brasil Telecom, nos leilões de privatização da telefonia brasileira.Na época, arapongas da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) grampearam o BNDES e o Ministério das Comunicações (que estavam organizando as privatizações) e descobriu-se uma manobra política, que envolvia inclusive o presidente Fernando Henrique Cardoso, para permitir a ação de Dantas.Não aconteceu nada porque os grampos foram feitos sem autorização da justiça. E quando isso ocorre, segundo a legislação brasileira, as provas perdem validade.

A partir daí uma série de casos e abusos aconteceram. Dantas iniciou sua cooptação direta de políticos e, mais grave, de jornalistas. Segundo consta nos relatórios da Operação Satiagraha, foram mais de 18 milhões de reais em propina à jornalistas. Alguns são citados: Diogo Mainardi e Lauro Jardim na Veja, Leonardo Attuch na IstoÉ, e Janaína Leite na Folha.

Existem processos contra Dantas no Brasil, nos Estados Unidos (movido pelo Citibank) e na Itália (movido pela TI). Dantas nunca foi condenado. A única que vez que perdeu alguma ação na Justiça foi em 2005, quando a juíza Márcia Cunha, da 2ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, ordenou que o Opportunity se afastasse da direção da Brasil Telecom, por gestão fraudulenta. Depois dessa decisão, o marido de Márcia recebeu três propostas milionárias para trabalhar no Opportunity, numa clara indicação de suborno ideológico. Ele não aceitou. Márcia foi à imprensa apontar o que Dantas estava fazendo nos bastidores. Nunca mais se ouviu falar de Márcia Cunha.

Mas foi só. Dantas nunca foi condenado.

Foi hoje.

Mas ainda não chegamos no clímax do caso Dantas. O juiz que condenou Dantas hoje, Fausto De Sanctis, será julgado, ainda essa semana, pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Pois é, juiz julgando juiz. Por que? Porque De Sanctis expediu dois mandados de prisão contra Dantas, em 08 e 10 de julho últimos, contra a vontade do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. O STF é o órgão máximo do Judiciário brasileiro. A ação movida contra De Sanctis, que será julgada pelo CNJ, foi perpretada pela defesa de Daniel Dantas. Quem é o presidente do CNJ, o homem que decidirá o destino do homem que condenou Daniel Dantas depois de quase 20 anos de abusos? Gilmar Mendes.

Mas isso é coincidência.


Mais informações:

Condenação de Dantas:http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u474156.shtml

Decisão do CNJ:http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u474147.shtml

Fausto De Sanctis:http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3367172-EI6578,00-Em+decisao+De+Sanctis+pede+respeito+no+processo.html

Satiagraha:http://oleododiabo.blogspot.com/2008/11/o-brasil-da-satiagraha.html

sábado, 29 de novembro de 2008

Descendo aos porões do instinto humano

Aí vai o texto que eu escrevi para o Contraponto, jornal-laboratório da PUC-SP, sobre um livro que eu recomendo para todos aqueles que querem ver uma obra que mostra um lado, digamos, não idealizado do homem.

Um incestuoso, grande apreciador da sodomia, para reunir esse crime ao de incesto, de assassinato, de estupro, de sacrilégio e de adultério, se faz enrabar por seu filho com uma hóstia no cu, estupra a filha casada e mata a sobrinha.

O trecho acima é apenas uma das quinhentas e noventa e oito paixões descritas, com esse mesmo vocabulário, no perturbador “Os 120 dias de Sodoma – A escola da libertinagem”, livro escrito em 1785 e considerado a obra-prima de Donatien Alphonse François, mais conhecido como o Marquês de Sade (1740 -1814).


Reclusos no castelo de Silling, no mais completo isolamento – local ideal para todo o tipo de libertinagens –, quatro amigos, já em idades que variam entre 53 e 63 anos – Duque de Blangis, Presidente de Curval, Barão de Durcet e o Bispo, todos eles dotados de grande poder financeiro e na sociedade francesa – não poupam dinheiro e meios para fornecer a estrutura que julgam necessária para o bom andamento da jornada de orgias que promovem de tempos em tempos. Subornam, seqüestram, matam...

Os alvos, para satisfazer as mais diversas formas de prazer, são variados. Crianças - de ambos os sexos, de 12 a 15 anos, batizados com nomes especiais para a ocasião; suas próprias mulheres e filhas – algumas já concebidas justamente com o intuito de serem alvo de sodomia; fodedores (sim, é este mesmo o nome) agressivos e dotados de membros descomunais, também rebatizados para a jornada; e por fim, velhas deformadas, fedorentas e banguelas. Para completar, quatro experientes cafetinas, acostumadas com o ambiente de libertinagem, que terão o papel de relatar e contar a todos sobre suas experiências libertinas, afim de preparar o terreno para as orgias diárias. Tudo isso preparado para satisfazer todas as possíveis e imagináveis fantasias eróticas dos quatro amigos. No fim das contas, o que importava para eles era, literalmente, esporrar.

As modalidades sexuais por eles experimentadas, segundo a classificação do livro, são simples, complexas, criminosas e assassinas, tudo em um cronograma previamente traçado em detalhes pelos quatro libertinos. Tudo isso é amplificado pelo detalhismo de Sade – ele próprio, claro, um libertino – ao descrever cada fantasia, expor os números que compõem a jornada libertina de quatro meses, e pelo formato que escolhe para tal – como se fosse um diário.


Sade (foto acima) passou, ao todo, 27 anos de sua vida na prisão ou internado em manicômios (foi em um deles, inclusive, onde faleceu), e foi nesses locais onde escreveu grande parte de sua obra. O motivo para tantos anos afastado do convívio social era seu comportamento chocante. Foi de seu nome que surgiu o termo “sadismo”, que define a perversão sexual de ter prazer na dor física ou moral do parceiro ou parceiros.

O autor se inspirou em sociedades dedicadas à libertinagem que já existiam na França de meados do século XVIII, e a partir delas colocou no papel todo o seu delírio, suas hipérboles obscenas. Sade mostra em seus escritos o lado mais sombrio da espécie humana.

Aliás, o marquês tinha um apreço especial pelos escritos que originaram “Os 120 dias de Sodoma”, redigidos durante uma de suas passagens pela prisão e que o próprio autor acreditava ter perdido para sempre. Muito da obra do marquês foi queimada por ordem de seus próprios filhos após sua morte, mas alguns bibliotecários salvaram parte dela e guardaram-na nos porões da Biblioteca Nacional Francesa. Na década de 1950, foram enfim editadas na França, o que provocou polêmica também nessa época.

Apesar de representar um enorme desafio, a obra de Sade ganhou forma igualmente no cinema e no teatro. Dirigido por Pier Paolo Pasolini, Saló ou 120 Dias de Sodoma (1975), finalizado meses antes da morte do cineasta, é bem fiel ás libertinagens descritas pelo marquês. Nos palcos, há 15 anos o grupo teatral paulista Os Satyros se dedica a encenar a obra sadiana. Em sua adaptação de “Os 120 dias”, quando a peça chega ao limite do suportável, os atores recitam o discurso de La Boétie, como uma forma de consolar o espectador.

Apesar de ter sido escrita no final do século XVIII, a obra de Sade continua a assustar e despertar a curiosidade de muita gente. A leitura de sua obra como um todo é perturbadora, rompe com paradigmas ao abordar questões fundamentais do ser humano que, em geral, são jogados para baixo do tapete. Ao mostrar sua concepção de humanidade, muito distante dos padrões normalmente idealizados, Sade consegue assustar até mesmo aqueles que já conhecem ou estudam a sua obra.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Enfim, algo com que comemorar

O TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região manteve nesta segunda-feira (17) o juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal, à frente do processo em que o banqueiro Daniel Dantas, sócio-fundador do Grupo Opportunity, é acusado de corrupção.

A matéria completa, do UOL, pode ser lida acessando o link abaixo:
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2008/11/17/ult5772u1584.jhtm

Em um caso que já beira o ridículo, onde os investigadores passam a ser investigados e que mexe diretamente com as relações promíscuas existentes entre políticos, empresários e certos jornalistas, a decisão do TRF não deixa de ser uma luz no fim do túnel. Uma prova de que há gente séria na Justiça brasileira - o desdobramento do caso, com prende-e-solta de Dantas, defesa de acusado querendo mandar no processo de seu cliente, grampos telefônicos e etc, já colocava em dúvida essa capacidade do Judiciário do país.

O que vai acontecer agora, afinal? Dantas vai ser indiciado? Protógenes vai virar réu? Outras tramóias e irregularidades virão à tona? O caso exposto pela Satiagraha tem o potencial de abrir uma caixa de pandora na política brasileira. E a pressão sociedade é importantíssima nesse momento. A verdade. seja ela qual for, precisa ser revelada.

sábado, 15 de novembro de 2008

Como um doente em estado de depressão

A crise que se abate sobre o mercado financeiro internacional tem tirado o sono dos defensores do neoliberalismo, que se vê claramente diante de um abismo. Ele parece mais um doente em estado depressivo: alterna momentos de grande euforia com estados de melancolia profunda. É justamente em casos como esses que aparecem alguns fatos curiosos da política pelo mundo e como eles são encarados de diferentes formas, dependendo do lugar onde eles ocorrem.

A sempre repudiada presença do Estado no mercado – especialmente o financeiro – foi, ironicamente, a única saída encontrada para salvar o sistema de uma reação em cadeia que o levaria a um colapso – e ainda não há plena certeza de que essa medida será suficiente. Grandes bancos e empresas faliram ou foram socorridos pelo Estado, que passou a controlar essas instituições. O caso da seguradora AIG, nacionalizada pelo governo dos Estados Unidos, é talvez o exemplo mais marcante. Há ainda quem insista em dizer que a atual crise é passageira e que em alguns anos os mercados vão recuperar as perdas decorrentes do colapso que está em curso. Mas até mesmo entre os neoliberais já há quem diga que 'acabou a farra de Wall Street'.

O mais curioso é que essa reação à nacionalização das empresas é completamente oposta a iniciativas recentes que aconteceram na mesma direção, em países como a Bolívia ou a Venezuela. Ao contrário, receberam duas críticas da comunidade internacional e foram interpretadas como uma intromissão desnecessária no mercado e na iniciativa privada. Enquanto isso, até os neoliberais mais convictos e incorrigíveis engoliram seco as iniciativas de nacionalização, que agora também ganham força na Europa. Em especial na Inglaterra, berço do Estado mínimo, que vai recapitalizar três dos maiores bancos do país.

Há quem insista em dizer que nacionalização é uma coisa e estatização é outra, com o intuito de diferenciar as ações promovidas nos países ricos pelos do terceiro mundo. A rigor, não há grande diferença, já que em ambos os casos o Estado marcou sua presença para evitar descaminhos na instituição, seja entrando como sócio ou assumindo o controle da empresa.

Esta é uma das contradições pouco exploradas pela mídia. Mas há ainda outros pontos que pedem para ser melhor esclarecidos. A cobertura da mídia não vai à raiz da crise, que está no próprio sitema financeiro; não toca na questão de que nunca houve uma concentração tão grande de riqueza em mãos privadas

Assim, a mídia torna-se uma mera reprodutora dessa 'lógica', em vez de ter um olhar crítico sobre esse aspecto. E, ao manter-se presa a isso, perde-se facilmente tantas vezes quantos solavancos o mercado financeiro apresentar.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Uma brincadeira sem graça nenhuma

Dê uma olhada na enquete publicada no site do Estadão e que também está na Revista JT do último domingo.
http://www.estadao.com.br/pages/enquetes/default.htm?id_enquete=320

Ela também segue transcrita abaixo:

Quais reivindicações femininas você faria ao Prefeito(a) eleito(a) no domingo?Se todos os problemas estruturais da Cidade já estivessem resolvidos (Educação, Saúde, Transporte, Segurança ...) que reivindicações femininas você faria?


- Banheiros públicos femininos cheirosos e com secador de cabelo

- Vai e vem para o shopping, sobretudo na época das compras de Natal

- Programa "mãe paulistana em forma". Junto com o enxoval vem a "bolsa malhação"

- Kit maquiagem em casa, distribuído no dia de seu aniversário

- Vale-chapinha para usar em emergências, como os compromissos de última hora

- Bilhete múltiplo aceito em todas nas clínicas de estética

- Manicures poupa-tempo em pontos estratégicos: dentro do ônibus, na fila do banco ...

Tá duvidando? Dá uma olhada no link, então, de novo:
http://www.estadao.com.br/pages/enquetes/default.htm?id_enquete=320

Pois é, podem até dizer que isso foi só uma brincadeira. Mas isso não tira seu mau gosto.
A enquete é perfeita para reiterar os estereótipos que já marcam há muito tempo as mulheres. Como se elas só pensassem em unhas, clínicas de estética, chapinhas, etc. Toda a indignação com essa enquete é plenamente justificada.

Nota zero para a 'brincadeira' da semana. Lamentável que uma organizaçaõ de mídia do porte do Grupo Estado abra espaço para uma coisa dessas.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Esses aí não aprenderam...

Enquanto as bolsas de valores despencam pelo mundo, investidores perdem seu dinheiro, cabelos e até mesmo a sanidade - e nos EUA, pessoas comuns são obrigadas a se mudar para seus carros -, algo diferente acontece com certas pessoas.

São os executivos da AIG, maior seguradora do mundo e que só não quebrou com a crise financeira internacional porque o governo dos EUA interviu na empresa, injetando US$ 85 bilhões na seguradora. Mas, eis que os distintos cavalheiros aproveitaram a deixa para tirar umas 'férias'. O caso está relatado em uma matéria da France Presse, repercutida na Folha Online, cujo link segue abaixo:




Os recibos revelam que a AIG pagou US$ 440 mil pela semana de férias, sendo US$ 200 mil em habitações, US$ 150 mil em comida e US$ 23 mil em serviços de spa.


"O americano comum está sofrendo economicamente. Perde seu trabalho, sua casa e seu seguro de saúde. Agora me pergunto se isto tem sentido", diz o congressista democrata Henry Waxman .


A frase não poderia cair melhor...


segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Sacoleiras de luxo e a frase da semana

Uma matéria que saiu na Folha de S.Paulo de hoje é emblemática sobre a ilha de fantasia em que vivem sa representantes da "high society" em São Paulo. No caso, são as freqüentadoras da Daslu, paraíso das socialites paulistanas e, por que não, do Brasil todo. O link, para quem assina o jornal e/ou o portal UOL, segue abaixo:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0610200819.htm

A matéria é ótima para dar risadas das dondocas em seu momento de 'sacoleiras de luxo'. E também para ver em que mundo cheio de fantasia em que elas vivem, que em nada corresponde a realidade em que se encontram grande parte da população.

O texto ainda traz uma prova cabal da futilidade desse extrato "privilegiado" da população paulistana, que parece sentir o centro do universo dentro do próprio umbigo. É a declaração da advogada, que consta na matéria, justificando seu voto em Kassab no 1º Turno da eleição municipal de ontem: "Tenho que garantir o emprego do meu marido, que é advogado na Subprefeitura de Cidade Ademar (zona sul). Eu garanto o emprego dele, e ele garante as minhas compras na Daslu".

Dispensa maiores comentários...

sábado, 27 de setembro de 2008

Escolha de rádio digital abre polêmica no Brasil


Iboc or not Iboc?? Eis a questão...


Nesta semana saíram duas notícias - que não tiveram lá muita divulgação, infelizmente - sobre a questão da digitalização do rádio no Brasil. As conclusões de ambas são bem distintas.


A primeira delas é uma matéria do Meio&Mensagem de 23/09, com a conclusão da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) sobre seus testes com o Iboc, um dos modelos cotados para ser adotado no Brasil. A recomendação foi pela adoção do Iboc - na verdade esta foi desde sempre a opção preferida das grandes emissoras. A justificativa da Abert pode ser sintetizada pela declaração de seu diretor-executivo, Flavio Cavalcanti Júnior. "Não existe outro padrão adequado para o modelo brasileiro, o Iboc é o único. Não foi uma escolha", afirmou. (aqui cabe um SIC daqueles bem grandes). A matéria completa por ser lida neste link que segue abaixo:




Por outro lado, matéria da Agência Estado de 26/09 mostra um outro lado dessa questão. O Iboc também foi testado pelo Instituto Mackenzie, e a conclusão da instituição é completamente diferente. Ela "não recomenda sua adoção pelo Brasil sem que se façam testes comparativos com outros padrões. Essa é a razão por que o Mackenzie se recusa a assinar o relatório final dos testes, nos termos solicitados pela Abert". A matéria pode ser lida no link abaixo:




Ou seja, não adianta a Abert colocar o carro na frente dos bois. Ainda há muito a ser discutido e testado sobre o assunto. A digitalização do rádio, como bem coloca a matéria da Agência Estado, é muito menos avançada do que a da TV. Prova disso são notícias de que até mesmo que países da Europa também vem enfrentando problemas com os padrões digitais que adotou. Até nos EUA, terra do Iboc, o sistema não funciona às mil maravilhas.


Concluindo: ainda há muita água para rolar sob essa ponte. E precisamos todos ficar de olho para que o ímpeto de um certo grupo de empresas (que infelizmente possuem um alaido poderoso em Brasília) não prejudique seriamente todo um setor da comunicação, o da radiodifusão.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Pesquisas, pesquisas e pesquisas

Na segunda-feira, novo estudo do Ipea - com dados do Pnad (Pesquisa Ncional por Amostra de Domicílios) apontou que mais de 13 milhões de brasileiros subiram de faixa social nesta última década. A matéria sobre o assunto pode ser lida no link abaixo.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u447578.shtml

Especialmente em 2008, diversas pesqisas e estudos apontaram crescimento da renda dos brasileiros, que ascenderam na piramide social, que aumentaram de renda, etc. O Pnad e o Ipea são apenas duas delas.

Uma coisa me chama a atenção: quais são os parâmetros de pesquisa utilizados? Eles são adequados à realidade brasileira de hoje ou já se encontram defasados? Parece muito bonito nas pesquisas e nas matérias que saem a respeito do tema, mas correspondem de fato à realidade? Os preços continuam aumentando, o custo de vida em geral sobe, os salários não sobem na mesma velocidade com que sobem os preços... Fica a dúvida: todos esses dados não acabam apresentam um quadro distorcido da real situação da economia nacional, da economia doméstica? Eles são capazes de identificar as distorções existentes na economia e na sociedade brasileira ou acabam também sendo enganados pela péssima distribuição de renda brasileira, onde estatisticamente os que ganham muito acabam 'compensando' em consumo e qualidade de vida as camadas mais pobres?

Se próprio PIB do país teve seu cálculo alterado ano passado, reajustando para cima os índices de crescimento da economia brasileira, por que não poderia haver uma mudança nos índices utilizados por essas pesquisas, caso seja detectada mesmo essa falha?

Nunca vi nenhum jornal da grande imprensa, da grande mídia se questionar a respeito disso. Seria uma boa pauta, na minha opinião.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Frase da semana (lamentável, mas é)

"O povo de Porvenir evitou uma tragédia maior em Cobija. Lamentavelmente, com a morte dessas pessoas. Mas se evitou que o conflito acontecesse na praça principal. Teria havido muitas centenas de mortes."

A autora da frase é Ana Melena de Suzuki, presidente do Comitê Cívico de Pando (departamento no extremo-norte da Bolívia), e foi publicada na Folha de S.Paulo em 19 de setembro. Ela minimizou as mortes ocorridas na cidade de Cobija, localizada próxima à fronteira com o Brasil, em dos mais violentos choques entre defensores e opositores do governo de Evo Morales.

Independente da opinião que se tenha a respeito de um governo ou da postura da oposição em relação ao mesmo, 'um pequeno número de mortos' não pode servir de atenuante para o que aconteceu em Cobija. Os ânimos há meses estão exaltados na Bolívia e a posições como essa de Ana Melena em nada contribuem para resolver ou atentuar qualquer crise.

Lamentável para uma 'presidente de comitê cívico'. Tomara que essa não seja a opinião reinante na sociedade boliviana

sábado, 20 de setembro de 2008

Mais e mais concentração

Mais um magnata resolve entrar no clube dos que tem alguma participação em veículos de mídia. O mais recente deles é o mexicano Carlos Slim, bilionário do setor de telecomunicações que comprou, ao valor total de R$ 127 milhões, 6,4% das ações do grupo que comanda o The New York Times, talvez o jornal mais famoso do mundo.

Parece pouco, mas com essa aquisição Slim torna-se o terceiro maior acionista do grupo, atrás apenas da família Sulzberger, que controla o jornal, e de dois fundos de investimentos que compraram ações no começo deste ano.

A comunicação vai cada vez mais se tornando um negócio para um grupo cada vez mais seleto e poderoso de pessoas e grupos empresariais, que acabam exercendo influência decisiva na programação que é veiculada pelos diversos sites, emissoras de TV e rádio e jornais submetidos a esses grupos.

domingo, 14 de setembro de 2008

Para refrescar a memória


Provavelmente você não lembra deste homem. É isso mesmo o que ele deseja.

É Vicente Viscome, ex-vereador em São Paulo, que ficou conhecido por sua participação na chamada "máfia dos fiscais", escândalo que sacudiu o Executivo e Legislativo paulistanos entre 1999 e 2000.


Então filiado ao PPB (hoje PP, o mesmo de Maluf), Viscome comandava o esquema de propina na regional da Penha (hoje as regionais são chamadas de Subprefeituras) . Foi um dos três políticos que teve o mandato cassado e chegou a ser preso pelas irregularidades em que se envolveu (outros punidos com a perda do mandato são a ex-vereadora Maeli Vernigniano e o ex-deputado estadual Hanna Gharib).


Pois bem, Viscome está de volta, agora filiado ao nanico PT do B. É fato que ele quer deixar esse 'passado' para trás, fazendo de conta que é um injustiçado por isto ou aquilo. Outros tantos políticos, na ativa ou não e envovidos com maracutiais diversas, tentam uma nova vaga no poder público em 2008, alegando os mesmos motivos. Na maior cara lavada.

Abaixo seguem links que expõem um pouco da vida deste homem. Na Folha Online, matérias que relembram seus tempos de vereador antes de ser cassado. E no TSE, sua declaração de bens - nada modesta, aliás. E, claro, aproveite e dê uma olhada na ficha daquele candidato em que você está pensando em votar em 5 de outubro.


Na Folha Online:



No TSE:



É fundamental ficar atento a esse tipo de oportunistas que foram ou não de alguma forma punidos politica ou criminalmente. Não adianta reclamar deste ou daquele político se eles chegam lá justamente através do voto de cada um. Ou seja, use-o bem. Ele é único, e vale por quatro anos.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Rádios comunitárias, uma forma de democratizar a comunicação

Até ano passado, pouco sabia a respeito de rádios comunitárias. Para mim, emissoras de rádio eram apenas as comerciais já conhecidas do dial paulistano. Mas com o tempo, percebi que a questão era bem mais complexa. E vi o tamanho da importância que uma rádio tem em uma comunidade, quando realmente voltado para esta.





Tive essa prova em uma visita que fiz à Rádio Heliópolis, primeira emissora comuntária da cidade de São Paulo a obter aturoização para funcionar. Aliás, essa conquista veio após uma grande mobilização da comunidade, especialmente depois de a rádio ter sido fechada de maneira truculenta pela policia em meados de 2006.




Até estranhei quando entrei na rádio e não precisei me identificar, nem nada. Tudo bem, várias pessoas na comunidade, para o caso de eu me perder no caminho, já sabiam que eu iria para lá. Mas o entra-e-sai de pessoas da rádio é constante, seja para pedir sua música favorita, anunciar algum assunto pertinente, deixar donativos para famílias carentes da comunidade, ou simplesmente conversar com o pessoal que toca a emissora. Uma relação que se retroalimenta, de extrema importância para ambos os lados. A coordenadora da rádio, Claudia Neves, que é locutora da rádio, expôs as dificuldades e conquistas que a comunidade e a emissora tiveram. A entrevista - que também poderá ser lida no jornal Contraponto (jornal laboratório do curso de Jornalismo da PUC-SP) - estará na integra no próximo post.





No final acabei até mesmo sendo entrevistado em pleno ar pelo Zenildo Ribeiro, outro locutor da rádio (foto logo acima), a exemplo da minha amiga, Simone Freire, que estava comigo fazendo a matéria sobre a emissora e a comunidade. De entrevistadores passamos para o outro lado por alguns minutos.

A experiência é riquissima e essencial para entneder o papel e a importância que uma emissora de rádio comunitária tem para uma determinada localidade. Infelizmente não é todo mundo que entende isso, pensando que essas diversas emissoras comunitárias que brigam para ter um espaço no dial de São Paulo são chamadas de piratas, por ainda não terem a autorização para funcionar. Nada como uma imersão em uma rádio desse tipo para desfazer os preconceitos plantados por aí.

Abaixo seguem algumas fotos da rádio e da comunidade:









sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Brincando com fogo - ou melhor, com armas de fogo

O fantasma da escola de Columbine, Colorado (EUA) parece voltar a cada vez que ocorre um incidente aprecido em alguma parte do mundo. O caso ficou tão célebre que foi o gancho que Michael Moore usou para falar da relação dos americanos com as armas no documentário "Tiros em Columbine" (um dos meus preferidos).

Mas, a julgar pela matéria abaixo do The New York Times (disponível para assinantes do UOL), parece que nem todos nos 'States' aprenderam a lição de Columbine. Uma escola de uma cidadezinha do Texas, as armas são permitidas em sala de aula.

Para um país que, pelo menos em teoria, se traumatizou com um caso que ganhou repercussão mundial, o caso relatado na matéria é brincar com fogo. Ou melhor, com armas de fogo, em seu sentido mais literal.

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2008/08/29/ult574u8773.jhtm

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Procurados 'famosos' pelo mundo - quando irão acertar suas contas?

Aproveiando o gancho da prisão do líder sérvio-bósnio Radovan Karadzic, a revista Foreign Policy soltou neste mês de agosto uma matéria com os seis criminosos de guerra mais procurados atualmente.

Alguns deles estão em plena atividade, outros brincam de gato e rato com as organizações internacionais e se escondem a todo custo - em certos casos são até acobertados por governos locais. Dos seis procurados, quatro são da África. Confira os nomes listados pela Foreign Policy :


Omar Hassan al-Bashir, atual presidente do Sudão (só lembrar do que acontece hoje em Darfur que já basta para enender o porquê dele estar nesta lista);

Joseph Kony, lider rebelde em Uganda;

Ratko Mladic, chefe do exército sérvio-bósnio durante a Guerra da Bósnia (parceiro de Karadzic, que já está acertando contas com o Tribunal de Haia) e um dos responsáveis pelo massacre de Srebrenica, que matou 8000 pessoas.

Aribert Heim, 'médico' nazista no capo de concentração de Mauthausen;

Félicien Kabuga, empresário mulitmilionário de Ruanda que deu apoio financeiro ao genocídio que matou 800 mil pesosas entre abril e maio de 1994;

Bosco Ntaganda, chefe militar de uma milícia chamada Congress for the Defense of the People (CNDP), baseada na República Democrática do Congo (ex-Zaire e democrática apenas no nome).

Sim, é claro que você deve estar sentindo falta de algum nome nesta lista. O de George W. Bush, presidente dos EUA caberia bem aqui, por ordenar as ações no Iraque e no Afeganistão. Mas aí é uma outra história.

Ah, e para quem quiser mais detalhes sobre os 'santinhos' citados acima, basta acessar a matéria no portal da Foreign Policy (todos os artigos da publicação estão em inglês).

http://www.foreignpolicy.com/story/cms.php?story_id=4409

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Antíteses de um contexto

Está aí uma das imagens mais significativas da semana, na minha sincera opinião. Duas atletas comemoram as medalhas conquistadas nos Jogos Olímpicos de Pequim. Mas há um detalhe que faz desta uma imagem especial.



O abraço entre a russa Natalia Paderina (esq.) e a georgiana Nino Salukvadze (dir.) após ganharem a prata e o bronze, respctivamente, na prova de pistola de ar de 10 metros, são a perfeita antítese do que ocorre hoje nas relações entre seus países de origem. Rússia e Geórgia estão em uma guerra pelo controle da Ossétia do Sul, região separatista gerorgiana e que conta com o apoio russo.


O conflito já provocou, segundo dados do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), 40 mil refugiados e deslocados internos na região. Estima-se que 2 mil pessoas já tenham morrido desde o início das escaramuças entre os dois países, em 8 de agosto. Enquanto isso ao contrário dos Jogos Olímpicos, o conflito Rússia x Geórgia produz imagens como esta na cidade de Gori, na Geórgia.



Quem dera o espírito olímpico também imperasse nas relações internacionais... Pelo contrário, a arrogância e a ânsia desmedida por poder conseguem por vezes interferir até mesmo nas Olimpíadas, ora utilizando-a como propaganda, ora aproveitando-se dela para atrocidades.
É difícil saber como estarão psicologicamente os atletas da Geórgia que representam o país em Pequim. Não vi ainda nenhuma matéria com esse enfoque, mas certamente a incerteza de encontrar seus parentes vivos ou suas casas ainda de pé após o término dos Jogos deve incomodar os competidores, tirar-lhes o sono inclusive. Para a atleta georgiana , a medalha de bronze em seu peito parece ser uma das poucas coisas certas nesse contexto onde o idioma corrente são o barulho das bombas e dos disparos de metraladoras e fuzis.
Seria bom que imagens como as de Natalia e Nino sensibilizassem governantes do mundo todo a pararem com os conflitos. Mas o dinheiro e o poder mostram o quanto conseguem falar cada vez mais alto.





















quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Quer criticar a China? Saiba fazê-lo

Centro das atenções nos últimos anos no cenário internacional (em 2008 especialmente por causa dos Jogos Olímpicos), as matérias jornalísticas em geral feitas sobre a China são negativas. No entanto, os aspectos positivos que existem na cultura e na história do país acabam deixados de lado, distorcendo qualquer retrato a ser feito da China.

OK, não estou dizendo que sejam mentiras as violações dos Direitos Humanos, a repressão à imprensa e à liberdade de expressão, a falta de democracia e o excesso de burocracia. Pelo contrário, isso existe e de forma bastante presente no cotidiano chinês. Mas a China em si é muito mais do que a arbitrariedade existente hoje em sua sociedade. Afinal, a historia desse país não começou com a chegada de Mao-Tsé Tung ao poder em 1949, mas muito antes disso, há cerca de 5 mil anos atrás.

Para começar, creio que a riqueza da cultura chinesa tem sido pouco abordada - quando o é, na maioria dos casos é apresentada como uma coisa pitoresca, exótica. Pouco se fala dos famosos provérbios chineses, dos ensainamentos de Confúcio, das artes marciais. Os chineses são os responsáveis por invenções sem as quais seria impossível pensar no mundo contemporâneo, como o papel, a pólvora, a impressão e a bússula. Construíram a única obra humana que pode ser vista do espaço, a Grande Muralha (foto acima), entre outras.

Se por um lado pode parecer estranho na culinária chinesa haver cobras e escorpiões, por outro é um símbolo de resistência de um povo que, literalmente, aprendeu a se virar do jeito que dava em momentos de escassez de alimentos para viver. Nem que para isso fosse necessário degustar mesmo aquilo que rastejasse pela terra - não se esqueçam de que a população chinesa hoje é a maior do mundo, de 1,3 bilhão de habitantes.

Enumerando esses dados, percebe-se como a cobertura sobre a China por parte da mídia e precária e reducionista. Além de ficar somente batendo na tecla de seu gigantismo econômico, de seu poderio econômico-militar frente aos EUA que só falta colocar a China como a nova URSS de uma nova Guerra Fria, adota-se um ponto-de-vista estritamente ocidental, usando-o como parâmero para analisar uma sociedade e uma cultura que lhes são completamente diferentes.

Se a intenção é criticar o que a China é hoje - um país que silencia seus opositores até mesmo através da morte, não permite a livre expressão e ainda consegur sufocar a população (de Pequim, por exemplo) com uma poluição de fazer inveja aos ares paulistanos, por que não fazer isso partindo do que essa cultura produziu de melhor para o mundo? Em um momento em que as grandes cidades chinesas cada vez mais ficam parecidas com as dos EUA, certamente, a análise seria muito mais rica, e a crítica mais interessante e contundente. Afinal, o próprio país, com sua política repressora, passa por cima de princípios que a nortearam por dezenas de séculos. E não essa toada monótona e irritante quer se tornou a cobertura a respeito da China.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

E o céu era azul.... agora é cinza



A foto acima dá uma idéia do que está entrando em nossos pulmões diariamente nesses dias secos e sujos. E ainda tem a notícia veiculada pela Folha Online hoje de que o mês de julho deve ser o mais seco da história de São Paulo (segue o link abaixo)




Quem precisa de Pequim em uma hora dessas?


Tão nebuloso quanto esse horizonte é o futuro do planeta em que vivemos. Céu cada vez menos azul, águas menos cristalinas e cada vez mais fétidas e turvas, paisagens cada vez mais áridas...


Exemplos como os de São Paulo e Pequim, além de uma penca de outros que pipocam pelo mundo - e que os poderosos parecem fazer questão de ignorar ou empurrar com a barriga - mostram que precisamos seriamente cuidar do local em que vivemos. Isto é, se ainda temos interesse em viver aqui...




segunda-feira, 28 de julho de 2008

Imagem do dia

Um amanhecer de encher os olhos na Ásia, retratado por astronautas em viagem à ISS (sigla em inglês para Estação Espacial Internacional). A imagem, na verdade, dispensa comentários.


domingo, 20 de julho de 2008

Advertência de um eleitor a um candidato

Uma matéria bem interessante na Folha Online de hoje, 20/07.

Ela relata que o comerciante Guilherme Ghandur, 31, cobrou neste domingo do candidato tucano Geraldo Alckmin a permanência no cargo, se eleito. Ele disse ao eleitor que ficaria os quatro anos na prefeitura, 'sem dúvida'.

A matéria pode ser lida acessando o link abaixo:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u424281.shtml

Duas coisas: a atitude de Serra (mesmo tendo sido eleito com grande margem de votos) deixou eleitores escaldados. É muito boa a atitude do comerciante, outros deveriam fazer o mesmo com seus candidatos.

Outro ponto é se Alckmin vai realmente cumprir sua promessa, o que já é uma outra história. A tentação pelo poder é grande, e o tucano não dá mostras de que deseja dessitir do sonho de ser presidente. Certeza mesmo disso, só haverá em 2010. Veremos.

Não apenas ver, mas ouvir, sentir...

Um assunto mais leve, para descontrair.

A foto abaixo é de Lisboa, Portugal. Pessoas caminham com os olhos vendados por ruas estreitas da capital portuguesa.



A brincadeira é parte de um projeto, batizado de 'Lisboa Sensorial'. Nele, um grupo de jovens artistas recebe voluntários com o objetivo de alertá-los para a importância de outros sentidos como a audição, olfato ou toque.

Aposto um doce que essa iniciativa foi inspirada no livro 'Ensaio sobre a Cegueira', do José Saramago. Independente disso, a brincadeira parece ser ótima. E sua finalidade, melhor ainda.






sábado, 19 de julho de 2008

O bom senso é o que vale

Um novo – e promissor – filão de mercado se apresenta com força nos últimos anos, a produção de conteúdo para telefone celular. E nos últimos meses ganhou ainda mais força com a chegada da tecnologia 3G, que possibilita aos aparelhos terem conexão de intenet em alta velocidade e potencializa outras funções já existentes nos celulares, como o bluetooth - transferência sem fio de arquivos de um celular para outro .

Grandes portais como UOL, IG, Terra e G1 já desenvolveram versões WAP (diferente da WEB) de seus sites para atender a crescente demanda, seja do ponto de vista jornalístico, econômico ou publicitário. O BOL deve estrear o seu portal WAP em breve.

As empresas de telefonia celular também entram na disputa para ver quem vai conseguir oferecer mais – e melhor – os serviços que o 3G possibilita. No meio de tudo isso, mais uma passo na tão falada convergência digital, onde áudio, vídeo e texto pode ser acessados de um único aparelho – que vai se tornando cada vez menor. Há até quem diga que os celulares do futuro serão invisíveis, utilizando-se da nanotecnologia, que mesmo engatinhando já impressiona pelos resultados que obteve.

Enquanto isso, a febre do momento (prevista para chegar ao Brasil perto do Natal) é o iPhone 3G, que procura reunir, em um único aparelho o melhor do 3G com os iPhones já existentes.

Os avanços chegam com tamanha velocidade que parece impossível avaliar, com precisão matemática, o que é mito e o que é real quando se fala em celular, o que atordoa pesquisadores de diversas áreas da ciência e da comunicação em seus estudos sobre o impacto dessas tecnologias nas pessoas.

As críticas variam, apontando desde a dependência que o uso do aparelho provocaria (o celular como parte integrante e inseparável de seu ser, tamanho é o apego de certos usuários em relação ao aparelho) até os diversos estudos feitos sobre a radiação que o telefone celular emite, algumas delas consideradas cancerígenas. Outras, no que dizem respeito à sociabilidade do indivíduo, são bem parecidas com os questionamentos feitos acerca de outro aparelho que se tornou essencial na vida contemporânea: o computador.

Mas, conservadores e entusiastas, devagar com seus andores. Da mesma forma que há um deslumbramento excessivo com o vasto horizonte que as novas tecnologias de comunicação oferecem (entre elas o 3G), as pesquisas científicas sobre malefícios do celular – seja em relação à saúde ou ao comportamento social do indivíduo – também se contradizem. Não dá para ignorar também que cada pessoa, independente das características que lhe são conferidas pela sociedade na qual ela se encontra, possui suas particularidades. Ou seja, não dá para dizer que todos os seres humanos se tornarão dependentes de seus telefones celulares, da mesma forma que já se proclamou que ocorreria com os computadores ou com a televisão - e que não aconteceu. Se por um lado há diversas pesquisas que apontam para um isolamento das pessoas por causa das novas tecnologias, também existem uma série de outras que indicam exatamente o oposto, que elas podem ajudar a aproximar pessoas - e, o mais importante, de que elas não são capazes de substituir o convívio social.

Para tudo isso, na dúvida, há um conselho que vale para todos os questionamentos acima, que permite equilibrar esses dois pesos que conservadores e entusiastas extremistas insistem em desequilibrar, e que não depende de tecnologia nenhuma: o bom senso. Afinal, tudo em excesso - até mesmo a água e o oxigênio - faz mal.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Tragédia em Congonhas completa um ano

Há um ano, acontecia no aeroporto de Congonhas a maior tragédia da história da aviação brasileira. O Air Bus da TAM se acidentou ao aterrisar e bateu no prédio da própria companhia aérea, matando 199 pessoas. Mas o balanço não é dos melhores.


As indenizações seguem em ritmo de conta-gotas, com apenas 79 acordos feitos - menos da metade do número de vítimas da tragédia. O inquérito segue sem conclusão, assim como também não há definição sobre os culpados pelo acidente. A TAM parece também ignorar as diversas pontas que ainda restam do caso, considerando o caso uma página virada em sua história. Enquanto isso, a dor das famílias que perderam pais, filhos, entre outros entes queridos no fatídico 17 de julho de 2007 continua, agravada pela sensação de indiferença que exala da tragédia .


Há quem considere que houve avanços no setor desde a tragédia. O raciocínio leva em conta a situação de caos pela qual passavam os aeroportos brasileiros, com constantes atrasos nos vôos, filas gigantescas no check-in. Hoje a situação, olhando por esse lado, melhorou sim, mas o chamado apãgão aéreo não está de todo afastado, tampouco as melhoras foram sentidas imediatamente após o acidente. A crise foi controlada, mas está longe do fim.


Para os que sobreviveram, ficaram as histórias de como escaparam de engrossar o já alto número de vítimas da tragédia do vôo 3054.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Sobre a cobertura da imprensa - Operação Satiagraha

As notícias a respeito da operação Satiagraha fizeram um ótimo serviço se a intenção era desinformar. As notícias não vão a fundo. Quando muito, certas matérias e artigos de colunistas dão algumas arranhadas na superfície.

Mas seja por falta de incentivo, falta de vontade, espetacularização, etc, a cobertura sobre a Operação Satiagraha está caindo em descrédito. A prisão de Dantas ficou em segundo plano. Já as de Pitta e Naji Nahas nem são mais lembradas. O que é pisado e repisado à exaustão é a polêmica criada pelos desmandos do presidente do STF, Gilmar Mendes, em relação ao juiz federal Fausto De Sanctis é retratada como um Fla-Flu ou Atle-tiba ou um Gre-nal. Fala-se sobre o uso das algemas, sobre quem do PT poderia ser fritado em mais esse escândalo, entre outros perfumarias sem real importância. Se Dantas é considerado expert em "participar de tudo e de nada ao mesmo tempo", a mídia vai se especializando em fazer muita fumaça onde não há fogo algum e ignorando os verdadeiros focos de incêndio.

Enquanto isso, o braço direito de Dantas se entrega e recebe destaque mínimo nos jornais. Ninguém faz o exercício de fazer uma pequena busca na memória e nos jornais e voltar a episódios-chave para entender toda essa tramóia que veio à tona. Não se fala epoca da privatização das teles em 1998 na qual o Dantas tá envolvido até o pescoço, bem como o escândalo empresarial pelo controle da Brasil Telecom mais recentemente, fora as outras operações escusas do banqueiro.

Sobre o Nahas, silenciam a respeito da quebra dos bancos Marka e Fonte Sindan e de quando ele e sua especulação quebraram a Bolsa de Valores do Rio. Sobre o Pitta (que já desfruta de um certo ostracismo em relação a cargos públicos graças às suas estripulias à frente da Prefeitura de São Paulo), não se dão ao trabalho de voltar a meados dos anos 1990 e ao escândalo dos precatórios. Ignoram também a questão dos fundos de pensão. Mas isso também no escândalo do Mensalão foi falado, falado e nada foi feito ou mexido. E esse assunto é nitroglicerina pura.

Quem se beneficia com essa desinformação conduzida pela má vontade em se apurar os fatos? Mais uma vez, Daniel Dantas, que só vai esperar a poeira baixar para voltar a agir na obscuridão dos bastidores do poder, da mídia e do Judiciário. Mais uma vez, Nahas e Pitta, um para continuar especulando e dando 'consultorias', o outro para continuar tentando voltar à vida política (dessa pelo menos, ao que parece, ele já foi condenado ao ostracismo).

Quem perde?

Toda a população, por ter mais uma mostra de impunidade. A Justiça, que sai emporcalhada e com imagem de avalista dessa impunidade. Perde-se também uma rara chance de revelar ao público esses intestinos os do Brasil. A imprensa, que joga sua credibilidade na lama e faz um desserviço a seu leitor, telespectador, ouvinte, etc. Enfim, o país perde uma boa chance de acertar as contas consigo próprio. No mais, continua mais do mesmo. E assim: sorria, Daniel Dantas!



sábado, 12 de julho de 2008

Rir para não chorar

Volta e meia o jornalismo presenteia seus leitores com verdadeiros micos que são realmente motivo de "rir para não chorar".

Nesta semana foi a vez de um jornal de Itabuna (BA), Diário do Sul da Bahia dar sua contribuição, juntando-se a outros exemplos célebres como o da gangue de traficantes publicada nbao passado pelo JB - mas que na verdade eram atores participando de uma filmagem em um morro do Rio de Janeiro.

Em sua edição de 9 de julho, o Diário publicou por engano a foto do ator global Daniel Dantas no lugar da imagem do banqueiro Daniel Dantas, preso durante a Operação Satiagraha da Polícia Federal. Nas edições seguintes, o jornal se desculpou com o xará global do banqueiro e publicou um editorial sobre a repercussão do erro na imprensa.

“Os 15 minutos de fama não foram fruto de um furo jornalístico, daqueles com que toda a imprensa nanica sonha para, ainda que momentaneamente, romper a intransponível barreira que a separa da grande mídia. (...) Ô glória inglória!”, diz o editorial.

Sem dúvida, rir para não chorar. Abaixo segue a prova da 'barriga':









quarta-feira, 9 de julho de 2008

Uma caixa de pandora que se abre

Ontem o assunto do dia foi a ação da PF que prendeu, entre outros, o banqueiro Daniel Dantas, o megainvestidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta.

É uma verdadeira caixa de pandora que se abre com isso tudo. Claro, tem uma certa pirotecnia da PF e tal, mas é importante acompanharmos com atenção os desdobramentos desse caso - que pelo jeito promete.

Esses três tem um passado que condena - e muito. Juntando tudo, tem corrupção, desvio de verbas públicas, lavagem de dinheiro, controle da mídia... Enfim, dá para ficar o dia inteiro só elencando irregularidades cometidas pelos três porquinhos aí, desde o fim dos anos 80.

Em 1989, o Nahas e suas especulações, quebraram a bolsa de valores do Rio (que posteriormente fundiu-se com a de São Paulo). O Dantas, volta e meia, vira e mexe aparece em alguma relação obscura nos bastidores do poder e da mídia. O Pitta, apadrinhado pelo Maluf, chegou à prefeitura de São Paulo e no seu governo estourou o escândalo da máfia da propina que ia para vereadores - não sei até hoje por que esse cara não foi cassado, Mas pelo menos agora conhece o ostracismo da vida política aplicado pela sociedade. Só em uma história assim para ele aparecer. E não venham nenhum dos três pagar de santinho agora....

Agora trabalhando em um portal internet eu to sentindo a histeria existente quando um caso assim estoura. São notícias e pseudonotícias que pipocam até da pia do banheiro e que te deixam mas atordoado do que informado.

Portanto, é fundamental que todos que tenham vontade de ver um país mais justo e cada vez mais livre dessa corja de ladrões acompanhem com atenção esse caso e seus desdobramentos, sem se deixar levar pelas pistas falsas que serão plantadas pelo caminho por aqueles a quem não interessa que se vá a fundo nas investigações. Esses elementos aparecem tanto na política como no meio judiciário como tambem na mídia. Devemos ficar de olho e pressionar, agir para que seja feita a justiça e esse pais deixe de ser menos corrupto.

Não é todo dia que uma caixa de pandora como essa se abre. E enquanto ela não for esmiuçada, ela não deve ser fechada.

PS: só por curiosidade, o nome da opoeração da PF é Satiagraha (resistência pela verdade, em sânscrito). Era um termo usado pelo Mahatma Ghandi, que pregava a desobediência civil na luta pela independência da Índia frente ao império britânico.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Resignação, humor negro ou ato de resistência?

Em Beirute, capital do Líbano - que há anos não sabe o que é ter um cotidiano de paz - uma lanchonete se inspirou na realidade atual do país para atrair clientes. A reportagem é da BBC Brasil.
http://estilo.uol.com.br/ultnot/bbc/2008/06/23/ult3806u423.jhtm

Fica questão inicial: resignação com um cotidiano violento, humor negro e oportunista ou um ato de resistência frente a uma realidade hostil? Prefiro esta última hipótese.

Mesmo que o dono do estabelecimento esteja usando a situação do país para ganhar dinheiro com o estabelecimento, não deixa de ser uma crítica - até bem-humorada - aos conflitos que não dão sossego ao povo libanês - aliás, problema crônico do Oriente Médio.

O simples ato de tentar tocar a vida em meio a um cotidiano que tem situações que beiram o absurdo já é, por si só, um ato de resistência. Uma mostra que a vida é muito mais forte do que a morte, a tragédia ou que os interesses dos grupos que dominam a cena política, religiosa e econômica do Líbano.

Aproveitando o comentário de uma amiga minha sobre essa matéria: "Vai uma bala aí 'tio'?"

sábado, 21 de junho de 2008

Justiça Federal e a hipocrisia

Ano eleitoral é uma época fértil para hipocrisias de todo o tipo. E a colheita em 2008, ano de eleições para prefeitos e vereadores de todo o país, promete ser farta.

O rebuliço da vez é a decisão da Justiça Eleitoral de multar veículos de imprensa que publicaram entrevistas com prováveis candidatos às eleições que ocorrerão em outubro. O jornal Folha de S.Paulo, por exemplo, junto com veículos de mídia, foram punidos por terem entrevistado a pré-candidata à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy.

Claro, a Folha busca defender o dela, invocando a famosa liberdade de imprensa e usando o espaço disponível em suas páginas para tal, ouvindo pessoas de renome na área jurídica. Comparações com os tempos sombrios da ditadura militar também são feitas com o intuito de reforçar a arbitrariedade - forçada de barra, é verdade, mas não deixa de ser um absurdo a decisão da Justiça Eleitoral.

Outra coisa: é evidente que os virtuais candidatos querem mais é falar mesmo, para quem quer que seja. São as únicas épocas em que os políticos se dispõem de corpo e alma para falar – e se promover -, além de tentar fazer o povo esquecer de alguma mancada que tenha cometido ou de alguma tramóia que tenha vindo a público. Ou seja, essa postura da Justiça Eleitoral é, de longe, das mais hipócritas.

Agora, aí vem a maior delas: o TSE "arregar" da medida de expor a ficha dos candidatos deste ano, permitindo ver se o candidato deve alguma coisa ou se é mais um com a "ficha suja". Segundo o presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia, ela pode ser "usada como arma" por concorrentes.

Ué, mas isso não é bom? Seria melhor ainda para o eleitor. Mas, como a regra é cada vez mais "transparência zero"... Fica aí mais uma caso de hipocrisia.

Ou seja, o órgão público que deveria zelar e colocar um pouco de ordem na fanfarra que são as eleições – que mudam suas regras a cada ano, só faltando fazer um bolão para tentar acertar qual regra cairá no pleito seguinte – e que deveria ajudar o eleitor, não o faz.

Pois bem, os eleitores mais uma vez estão sozinhos na tarefa de identificar - e tentar através de seu voto,limar - da vida pública, os corruptos.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Revista Caros Amigos perde onze funcionáros

Esse assunto não tinha como deixar passar em branco, apesar de não ser o tema principal deste blog.

Tornou-se pública na quarta-feira, 18 de junho, a saída de onze funcionários da revista Caros Amigos. Fundada em 1997 por Sérgio de Souza, figura respeitadíssima no meio jornalístico e que morreu no ultimo dia 25 de março, a revista destaca-se por diferenciar-se das demais que pertencem ao mainstream do mercado de publicações. Para seus críticos, é porta-voz dos esquerdóides mais rasteiros e não tem relevância. Discordo disso e me colocando entre os que admiram o trabalho da Caros Amigos - pelo menos o apresentado até agora.

Claro, é uma pena que a revista esteja enfrentando uam situação dessas. Mas essa história ainda precisa ser melhor esclarecida.

A saída conjunta e voluntária de dez funcionários em solidariedade ao secretário de redação, Thiago Domenici, demitido por telefone em 13 de junho - aliás, uma forma ridícula e covarde de se fazer isso, independente do motivo - é uma mostra de que algo realmente não andava bem na redação da revista.

Mylton Severiano, que assumiu a direção da revista com a morte de Sérgio de Souza, afirmou ao site Comunique-se que o motivo do problema é que Domenici se julgava o sucessor de Serjão na Caros Amigos, tendo como apoio a "ala jovem" da publicação. O motivo da saída de Domenici teria sido sua recusa em entrevistar a ministra Dilma Roussef, mandando uma repórter no lugar, sem comunicar a chefia.

Já o ex-secretário rebateu dizendo que não era possível mas dialogar na redação, "nem mesmo para discutir uma capa" e que Mylton, apesar de ser um grande editor, não consegue se relacionar com o rsto da redação.

Os outros dez demissionários afirmaram, segundo nota: "Nunca houve nenhum tipo de articulação e também nenhuma oposição ou tentativa de interferência ao processo de sucessão do editor. Em nenhum momento qualquer das pessoas que assinam essa carta duvidou que Mylton Severiano estivesse apto para assumir a direção da revista."

Levando em conta o que aconteceu, a versão de Mylton e o comunicado que os demitidos divulgaram, fico com os demissionários. E com a torcida de que a Caros Amigos mantenha o nível que a tornou respeitada no meio jornalístico - ao contrário do que pensam seus críticos.

Mas se ela realmente mudar - e para pior - , seus leitores e colaboradores fiéis vão perceber de pronto e provavelmente terão a mesma atitude dos demissionários. Com isso, perdem não só eles em espaço e fonte de informação, mas toda a imprensa brasileira.

terça-feira, 17 de junho de 2008

O buraco é mais embaixo

O caso da morte de três jovens do morro da Providência, Rio de Janeiro, encontrados mortos no morro da Mineira, tambem no Rio, é bem mais complexo do que pode parecer, levantando uma série de questões importantes no que diz respeito à segurança pública, papel do Estado e do Exército, entre outros.

O que os militares tinham que entregar os jovens aos traficantes do morro vizinho? Desacato à autoridade não explica e tampouco justifica a atitude tomada pelos onze infelizes. Até parece que há algum tipo de conchavo entre militares e criminosos - o que ja não e novidade entre alguns agentes policiais e até mesmo, por que não, políticos? Para tais elementos, em nome do poder vale tudo.

Qual o real papel do Exército? Constitucionalmente, ele não tem competência para tarefas como as que desempenha hoje no morro da Providência, tocando um projeto assistencial - que há quem aponte inclusive como uma medida eleitoreira de um possível candidato à prefeitura do Rio, para não citar os nomes.

Para variar, não vai adiantar nada ficar dizendo que o que os militares fizeram é lamentavel, abominável e etc, etc e etc, ou dizer que o Exército tá em crise. O ponto a ser questionado está bem mais embaixo: que política de segurança pública deve ser implantada? A que existe hoje - se é que ela realmente exista - é uma piada, uma mostra de incompetência, má vontade e covardia de enfrentar o problema de frente.

O fato: é mais do que urgente que seja discutida uma política de segurança publica séria, onde cada um tenha o seu papel de atuação muito bem definido e, sobretudo, que sejam criadas as condições necessárias para a implantação desse plano - financeira, psicológica, de inteligência, sociais, comunitárias, de respeito aos Direitos Humanos, de equipamentos, etc. Se o Exército teria ou não participação nessa política é algo a ser bem discutido. Uma política ampla, que atenda a todo o Brasil e não somente o eixo Rio-São Paulo - há outros locais do Brasil que sofrem com a violência: capitais como Recife e Vitória e as pequenas cidades da Amazônia que sofrem com outros tipos de criminosos que impõem seu poder paralelo.

Os locais são diferentes. Mas a sensação dos que vivem nessas áreas e sofrem com a repressão de uns e o descaso e omissão de outros é a mesma: medo. E uma crença cada vez menor em uma solução.

O que não dá

domingo, 15 de junho de 2008

Ditadura brasileira fez escola pelo mundo

Sob o título "Exército ensinou tortura a estrangeiros", a reportagem, publicada no caderno Brasil, falou sobre o Cigs (Centro de Instrução de Guerra na Selva), fundado em 1966, e que relembrou alguns dos oficias estrangeiros que apredeream em terras brasileiras técnicas de torura e combate à guerrilha. Segundo a reportagem, dentre os "ilustres" alunos que assaram pelo órgão, está o coronel francês Didier Tauzin, que em 1994 liderou a chamada operação Chimère, com a qual treinou secretamente oficiais hutus no combate às guerrilhas tutsis em Ruanda. O confronto étnico resultou num genocídio, com 800 mil vítimas.

A lista segue com outros militares de paises da América do Sul, que participaram de ações de repressão a grupos guerrilheiros contrários aos regimes vigentes, como Chile e Peru. Assinantes da Folha de S.Paulo e do UOL podem ter acesso ao texto completo e os demais que complementam a matéria acessando o link abaixo:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1506200812.htm

É, a ditadura brasileira e suas violações contra os Direitos Humanos fizeram escola pelo mundo...

No mesmo jornal, já no caderno Cotidiano da Folha, uma pequena nota tratou da morte do cadete Maurício da Silva Dias, de 19 anos, que morreu após passar mal em um treinamento militar da Academia Militar das Agulhas Negras (Amam), no sul do estado do Rio de Janeiro. Para assinantes, o link para a nota segue abaixo:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1506200821.htm

Durante a semana, a Amam foi alvo de críticas quanto às técnicas de treinamento que levaram ainda outros dois cadetes a serem hospitalizados e que atualmente estão sob observação.

É, ainda há um longo caminho para o Brasil - como sociedade, e para as instituições incumbidas de defendê-la - superar os efeitos e se limpar dos resquícios da ditadura militar que, ao contrário dos que defendem o período, pouco contribuiu para o desenvolvimento do país, tanto econômica como políticamente. E menos ainda para preservação dos direitos de cada cidadão, especialmente daqueles que tiveram a coragem de se posicionar frontalemente contra os abusos da ditadura militar.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Faroeste amazônico (ou por que não "Faronorte"?)

Um levantamento feito pela Agência Brasil divulgado em diversos veículos de mídia em 7 de abril (abaixo o link para o texto publicado no portal G1), o desmatamento na Amazônia está relacionado com a violência na região. Dos 100 municípios com maiores índices de desmatamento, 61 estão entre os que apresentam as maiores taxas de homicídio do país.

http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL19212-5598,00.html

A Amzônia hoje é, com o perdão do trocadilho, uma espécie de Faroeste sem glamour - ao contrário dos Estados Unidos, que romantizaram através do cinema e de séries de TV a matança contra índios e mexicanos que sustentou a expansão do território estadunidense rumo ao Oeste.

Poderes locais aproveitam a ausência do Estado para se impor e passam por cima daqueles que os afrontam. São eles posseiros, madeireiras, contrabandistas, aliciadores de menores e de mão-de-obra escrava são alguns dos "gêneros" que atuam nas terras sem lei ao norte do país. Irmã Dorothy Stang, morta em 2005, é um exemplo cabal - mas talvez só tenha obtido a repercussão que teve por tratar-se de uma cidadã estrangeira (dos Estados Unidos) morrendo em solo brasileiro. O mandante da morte da freira foi absolivdo em 6 de maio - o que mostra mais uma vez a falta de voz dos poderes legais na região - e a força do poder paralelo.

Enquanto isso, a Amazônia é ceifada e seus habitantes - o lado mais fraco da corda - sofrem nas mãos dos xerifes às avessas que tomam conta dos grandes pedaços de terra onde o Estado não se faz presente, não importa qual motivo. Em reportagem publicada no Globo Online (link abaixo), o bispo da Diocese da Ilha de Marajó (PA), dom José Luiz Azcona, afirmou que 300 pessoas estão marcadas para a morte no interior do Pará - ele próprio é um dos quatro religiosos ameaçados, junto com os bispos Flávio Giovanele e Erwin Krautler, além do padre José Amaro Lopes de Souza. Dos 300, cerca de 100 estão sob proteção do governo federal.

http://oglobo.globo.com/pais/mat/2008/05/06/bispo_denuncia_que_ha_300_pessoas_marcadas_para_morrer_no_para-427240969.asp

Uma das falas de Azcona na matéria é bastante esclarecedora, tanto para o poder público quanto para a mídia, e indica um caminho para que se comece a entender de fato o que se passa na Amazônia e o que deve ser feito para acabar com o poder paralelo lá existente e proteger seus habitantes: "Tem que ter uma mudança de mentalidade, uma convesão. (É preciso) Olhar para a Amazônia como a Amazônia é, não com os olhos de Brasília."

Complementando o pensamento do bispo, nem com os olhos de Brasília, nem com os de São Paulo, Rio de Janeiro....

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Apartheid social made in Brazil


Recém-inaugurado na cidade de Curitiba, o Shopping Palladium tomou uma atitude no mínimo questionável: na semana passada seguranças barraram a entrada de um grupo de jovens da periferia, vestidos com camisas de clubes e trajes de hip-hop (roupas exageradamente largas e bonés). O shopping fica localizado na zona sul da cidade, que concentra os bairros mais populosos e onde se concentra a população mais pobre. Motivo: evitar "baderna" e que indivíduos que possam representar "risco" entrem no local. Abaixo o link para a matéria no portal UOL.

O Ministério Público do estado do Paraná já avisou que vai investigar as denúncias, conforme nova matéria sobre o caso, também publicada no portal UOL: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2008/06/06/ult5772u58.jhtm
Detalhe: essa não é uma prática isolada. Outros shoppings da cidade fazem o mesmo. Um atentado ao direito de ir e vir, além de toda a discriminação social existente nessa atitude. É ainda mais vergonhoso para uma cidade que gaba-se de ser um exemplo de cidadania para todo o Brasil. Como se a simples atitude de barrar "elementos suspeitos" fosse suficiente para coibir eventuais casos de violência e vandalismo.
Um autêntico caso de Apartheid social. Made in Brazil.
Então jovens ditos de classe média alta não podem tornar-se bandidos e baderneiros e causar tumulto e representarem risco a outras pessoas? Exemplos recentes - mas que infelizmente são deixados de lado pela amnésia crônica da sociedade brasileira - mostram justamente o contrário. Índio Galdino queimado vivo em Brasília, filhos de políticos e empresários atirando coisas em quem passava pelas calçadas da praia de Copacabana, enfim, dá para ficar o dia inteiro aqui elencando exemplos de vandalismo e de crimes cometidos por pessoas "bem-educadas, esclarecidas, conscientes"... So faltou dizer: "você é rico, então é bom; já você é pobre, não presta".
A sociedade brasileira ainda têm muito o que aprender... Mas ainda mantenho a esperança de que ela um dia aprenda que não será se escondendo em suas casas ou tentando formar clubes fechados que passem a impressão de que se vive em um mar de rosas que ela resolverá os problemas sociais que a cercam. Mantenho a esperança de que um dia ela aja de fato como uma sociedade.

sábado, 31 de maio de 2008

Equipe de jornal do RJ é seqüestrada e torturada

Jornalistas que lidam com casos de violência estão sujeitos a isso. Matéria da Folha Online deste sábado, 31/05: Milicianos seqüestram e torturam equipe de "O Dia", diz jornal. Segue abaixo o link para os interessados:



http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u407508.shtml

No dia seguinte, o secretário de segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, confirmou a participação de policiais militares entre os torturadores, conforme a matéria cujo link segue abaixo. A favela onde os jornalistas investigavam denúncias e controlada por milícias, que são formadas em grande parte por policiais civis e militares.

http://noticias.uol.com.br/ultnot/2008/06/01/ult23u2449.jhtm

Infelizmente, esta e uma situação a qual todos aqueles que lidam com a violência urbana estão sujeitos, sejam eles jornalistas ou não. Não dá para neste momento ter uma postura corportativista e só de indignar porque são jornalistas. Não deve ser exagero nenhum imaginar quantos outros já teriam sido torturados - e que alguns talvez tenham tido a mesma "sorte" que Tim Lopes, jornalista torturado e morto enquanto investigava uma denúncia de exploração de menores em um balie funk promovido por traficantes em uma favela do Rio em 2002. Alias, em 02/06 o crime completa seis anos.

O que deve ser feito é cobrar e lutar por uma nova metalidade que rompa o círculo vicioso criado pelas máximas de "só se combate violência botando a polícia na rua e os bandidos na cadeia". Os policiais não têm, na real, boas condições materiais e psicológicas para atuar em defesa da sociedade, mas também ofendê-los chamando-os de "coxinhas" e "passa-fome" não ajuda em nada. Como um policial defende uma sociedade se um não confia no outro? Os que têm a "mente mais fraca"acabam como bandidos, formando as milícias que torturaram os jornalistas no Rio.

Nem os bandidos têm um tratamento de correção e reintegração decente. São todos tratados da mesma forma, independente do delito cometido, o que segrega ainda mais os indivíduos que por n motivos acabaram no mundo do crime, sem dar a eles uma segunda chance. Logo, as cadeias viram verdadeiras faculdades de graduação e pós no crime organizado - muito bem organizado, por sinal.

Quando a sociedade deixar de ser hipócrita e resolver reciclar o "lixo" que ela própria produz com sua arrogância e individualismo, daí ela entrará em um caminho que a levará a uma reslução mais saudável desse problema. Enquanto isso, se ela não quiser se dar a este trabalho, ainda pode-se esconder atrás dos muros de suas casas. Aliás, quem é que realmente está em uma prisão??


Para refrescar: foi fazendo uma matéria que cutucava os traficantes de drogas da Vila Cruzeiro que em 2001 morria o jornalista Tim Lopes, da TV Globo.



"Estamos em guerra", dizem os mais apressados. Até parece que atis pessoas realmente desejam que isso aconteça, seja na real ou ao menos no imaginário das pessoas.



Infelizmente todos acabam pagando pela omissão do poder público e pela manutenção de uma mentalidade que apenas reforça estereótipos.



Que conclusões podem ser tiradas de mais esse ataque



Aí temos mais uma prova do círculo vicioso criado pela omissão do poder publico, associada a medidas imediatistas e senso comum.



Tortura, milicias, ausência do Estado... poderia ficar aqui horas enumerando coisas para identificar