domingo, 27 de abril de 2008

E a Via Crucis vira circo

Literalmente, a dor virou espetáculo. O caso da morte da menina Isabella Nardoni, de 5 anos, explicita que a imprensa brasileira em geral, apesar de ter obtido avanços, ainda não sabe como lidar com questões ligadas à violência, especialmente os que causam grande comoção nacional.

Desde que a morte da menina começou a se configurar como um escândalo, alertou-se para que a cobertura não cometesse os mesmo erros do caso Escola-Base, onde o pré-julgamento do acusados quase acabou com a vida dos envolvidos. Pouco tempo depois, quando foi comprovada a inocência dos envolvidos, o estrago já estava feito. E no caso Isabella, mesmo considerando-se que foram obtidos certos avanços na cobertura de casos de violência, erros primários continuam a ser cometidos. Na ânsia de achar logo um culpado e dar vazão aos apelos da opinião pública, a imprensa mais uma vez se limitou aos fatos – os mais explosivos, inclusive –, com matérias que em nada contribuíam para um maior esclarecimento da questão, arrogando-se a uma função que não cabe a ela, mas sim à Justiça: o de julgar os culpados.

Foram raras as matérias que deram um enfoque diferente para a questão. Uma delas, da Folha de S.Paulo, falava do impacto do caso na mente das crianças e orientava os pais a como poupar seus filhos do pior da cobertura. Esforço que em grande parte acaba sendo em vão, quando até mesmo os jornais matutinos e da hora do almoço optam por uma abordagem em geral tendenciosa e sensacionalista do caso. No dia 19, sexta-feira, uma matéria do UOL pela primeira vez usa o termo “espetáculo” para designar o circo armado em torno da questão. Apesar de todas as evidências apontarem para a culpa do casal, a postura adotada pela imprensa não dá margem para outra possibilidade. Logo, um novo caso Escola-Base.

Pior de tudo, a imprensa parece esquecer, que independente de serem culpados ou inocentes, estão lidando com pessoas. Culpados ou inocentes, todos os envolvidos tem direito à privacidade, mas esse aspecto parece que se perdeu em meio à cobertura. Jornalistas e curiosos acampando em frente ao prédio onde ocorreu o crime, na calçada da casa dos pais da mãe de Isabella, na frente da casa da família Nardoni. Até quem não tem nada a ver com o caso, como os vizinhos por exemplo, acabam pagando o pato. Em uma comparação grosseira, a imprensa tem-se comportado como um abutre esperando pela carniça. A dor, a Via Crucis virou circo.

sábado, 19 de abril de 2008

E a Via Crucis virou circo

Pela primeira vez desde 29 de março, vi uma matéria ontem no UOL (18 de abril) que dizia que o caso Isabella havia se tornado um espetáculo - da mais desagradável espécie, claro. Enfim, uma luz em meio a uma cobertura que, em geral, cometeu erros já apontados em outras ocasiões.

OK, lidar com casos de violência que chocam a opinião pública não e nada fácil e exige todo cuidado do profissional que o cobre, - ainda mais no caso da morte de uma criança de cinco anos como Isabella. Mas, na ânsia da audiência e do furo, acabam se esquecendo de um ponto fundamental: estão lidando com pessoas, sejam elas culpadas ou inocentes. E o respeito à pessoa humana que é bom, nessas horas desaparece.

Caso fique comprovada a culpa de Alexandre Nardoni (pai) e Anna Carolina Jatobá (madrasta) na morte de Isabella, eles têm que cumprir uma pena exemplar. Enquanto isso, não cabe à imprensa apontar os culpados - já basta a Polícia cuidar disso, função dela inclusive. Só que em vez de ajudar a esclarecer a opinião pública sobre o caso, a imprensa acaba turvando, prejudicando ainda mais as investigações com as especulações - em casos como esse, sempre tem uns espertinhos que aproveitam para jogar lenha na fogueira em beneficio próprio. Etica, valores morais, pudores, bom senso e senso crítco, tudo isso vai para o vinagre.

E os familiares da vítima e dos acusados (ou suspeitos, está tudo enrolado), com sua vida particular, suas dores, dúvidas, tudo isso exposto às câmeras e ao alcance do olhar de milhões de pessoas... Todas elas são vidas evolvidas nisso e que pouco ou nada tem sido respeitadas. Pelo contrário, a cobertura da imprensa, somada à consagrada lerdeza das autoridades, cria um clima de "fazer justiça a qualquer preço" - se não com as próprias mãos, ao pedir para lincharem o casal suspeito (ou acusado, agora já não faz tanta diferença).

Só falta dizer "Faz parte do show", ao estilo das velhas apresentações de circo. Infelizmente, este é um circo mesmo, um circo de horrores. A Via Crucis, a dor, mais uma vez, virou circo

Prisão de Roberto Cabrini

Tem alguma coisa de bastante estranho nessa prisão do Roberto Cabrini. Não sou lá grande fã dele e da forma com a qual ele conduz as reportagens, às vezes descambando para o sensacionalismo. Mas, por mexer com assuntos voláteis, a justiicativa que ele deu de que a cocaína colocada no carro dele seria uma armação não deixa de ser plausivel. Pode ser memso que alguem esteja tentando tirar o jornalista de alguma pista, investigação importante, sabendo demais. Mesmo não gostando do trabalho dele, espero que ele não esteja envolvido com nada ilicito. E não cabe julgar, mas sim acompanhar a apuração e somenrte em cima dos fatos e da apuração feitra, aí sim tomar uma posição. Como já diz a justiça brasileira, inocente até que se prove o contrário.

Ah, sobre o caso Isabella: vamos ver os jornais de amanhã, 19/04.

domingo, 13 de abril de 2008

Eles ainda não aprenderam

Uma reportagem da Folha de S.Paulo, caderno Mundo (13/04/08)me chamou a atenção:

"Grupo pró-armas cresce em campi dos EUA"
Assinantes da Folha e do UOL podem ter acesso à matéria entrando no link: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1304200813.htm.

Sim, o mesmo país de Virgínia Tech, o mesmo de Columbine (que motivou o célebre documentário de Michael Moore, gostem dele ou não). Aliás, Tiros em Columbine traz uma explicação bem didática, através de um desenho aos moldes de South Park, quanto à obsessão dos americanos com as armas.

O que mais preocupa é que os integrantes desse grupo acreditam que a melhor forma de combater e evitar episódios como os de Virginia Tech e Columbine é justamente a de aumentar o número de pistolas sob poder de alunos, exatamente na direção oposta que diversos paises tem tomado para resolver o mesmo problema.

A impressão que fica: eles ainda não aprenderam... Quando irão, afinal?

domingo, 6 de abril de 2008

Frases - parte 1

"Os fatos não deixam de existir só por serem ignorados".

Essa frase, de um filósofo espanhol chamado J. Sádaba é uma ótima lição especialmente aos jornalistas e aspirantes a essa profissão.
Lembra uma frase que Luiz Carlos Azenha coloca em seu site, Vi o Mundo, de que o repórter vê coisas que a câmera não capta. Mas nem por isso esses fatos que não foram divulgados em rede nacional, por exemplo, deixaram de exisitr. É fundamental ter sempre essa reflexão em mente.

sábado, 5 de abril de 2008

Não se esqueçam da Escola Base

O caso da morte de Isabella Nardoni, de apenas 5 anos, levanta uma importante discussão sobre a cobertura da imprensa: como ela deve cobrir casos que tenham cunho policial?

Em matéria do Comunique-se de 3 de abril, a chamada era a seguinte: "Isabella Nardoni: como escapar de uma nova Escola Base". Este caso, ocorrido em 1994, consistiu em acusações inverídicas feitas pela Polícia Civil, e embarcada pela mídia, de que quatro sócias da Escola de Educação Infantil Base, em São Paulo, estariam abusando sexualmente das crianças. É considerado um dos maiores crimes cometidos pela mídia no Brasil.

Uma série de elementos devem ser levados em conjunto nesses casos. A vítima é uma criança, o que desperta e muito a sensibilidade das pessoas. Na ânsia de se achar logo um culpado - e também o furo do dia - conclusões precipitadas podem ser tomadas. E elas podem alterar significativamente o rumo de toda uma vida. E, claro, nunca se pode descartar uma pessoa que, visando exposição e notoriedade na mídia, distorça os fatos a seu favor.

É de suma importância que os jornalistas hoje debruçados sobre o caso tenham em mente a série de fatores envolvidos no caso. E, especialmente, ter respeito pela pessoa, seja ela no final das contas culpada ou inocente - e, segundo a própria lei brasieira defende, inocente até que se prove o contrário.

Ou seja, lembem-se da Escola Base.