terça-feira, 24 de junho de 2008

Resignação, humor negro ou ato de resistência?

Em Beirute, capital do Líbano - que há anos não sabe o que é ter um cotidiano de paz - uma lanchonete se inspirou na realidade atual do país para atrair clientes. A reportagem é da BBC Brasil.
http://estilo.uol.com.br/ultnot/bbc/2008/06/23/ult3806u423.jhtm

Fica questão inicial: resignação com um cotidiano violento, humor negro e oportunista ou um ato de resistência frente a uma realidade hostil? Prefiro esta última hipótese.

Mesmo que o dono do estabelecimento esteja usando a situação do país para ganhar dinheiro com o estabelecimento, não deixa de ser uma crítica - até bem-humorada - aos conflitos que não dão sossego ao povo libanês - aliás, problema crônico do Oriente Médio.

O simples ato de tentar tocar a vida em meio a um cotidiano que tem situações que beiram o absurdo já é, por si só, um ato de resistência. Uma mostra que a vida é muito mais forte do que a morte, a tragédia ou que os interesses dos grupos que dominam a cena política, religiosa e econômica do Líbano.

Aproveitando o comentário de uma amiga minha sobre essa matéria: "Vai uma bala aí 'tio'?"

sábado, 21 de junho de 2008

Justiça Federal e a hipocrisia

Ano eleitoral é uma época fértil para hipocrisias de todo o tipo. E a colheita em 2008, ano de eleições para prefeitos e vereadores de todo o país, promete ser farta.

O rebuliço da vez é a decisão da Justiça Eleitoral de multar veículos de imprensa que publicaram entrevistas com prováveis candidatos às eleições que ocorrerão em outubro. O jornal Folha de S.Paulo, por exemplo, junto com veículos de mídia, foram punidos por terem entrevistado a pré-candidata à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy.

Claro, a Folha busca defender o dela, invocando a famosa liberdade de imprensa e usando o espaço disponível em suas páginas para tal, ouvindo pessoas de renome na área jurídica. Comparações com os tempos sombrios da ditadura militar também são feitas com o intuito de reforçar a arbitrariedade - forçada de barra, é verdade, mas não deixa de ser um absurdo a decisão da Justiça Eleitoral.

Outra coisa: é evidente que os virtuais candidatos querem mais é falar mesmo, para quem quer que seja. São as únicas épocas em que os políticos se dispõem de corpo e alma para falar – e se promover -, além de tentar fazer o povo esquecer de alguma mancada que tenha cometido ou de alguma tramóia que tenha vindo a público. Ou seja, essa postura da Justiça Eleitoral é, de longe, das mais hipócritas.

Agora, aí vem a maior delas: o TSE "arregar" da medida de expor a ficha dos candidatos deste ano, permitindo ver se o candidato deve alguma coisa ou se é mais um com a "ficha suja". Segundo o presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia, ela pode ser "usada como arma" por concorrentes.

Ué, mas isso não é bom? Seria melhor ainda para o eleitor. Mas, como a regra é cada vez mais "transparência zero"... Fica aí mais uma caso de hipocrisia.

Ou seja, o órgão público que deveria zelar e colocar um pouco de ordem na fanfarra que são as eleições – que mudam suas regras a cada ano, só faltando fazer um bolão para tentar acertar qual regra cairá no pleito seguinte – e que deveria ajudar o eleitor, não o faz.

Pois bem, os eleitores mais uma vez estão sozinhos na tarefa de identificar - e tentar através de seu voto,limar - da vida pública, os corruptos.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Revista Caros Amigos perde onze funcionáros

Esse assunto não tinha como deixar passar em branco, apesar de não ser o tema principal deste blog.

Tornou-se pública na quarta-feira, 18 de junho, a saída de onze funcionários da revista Caros Amigos. Fundada em 1997 por Sérgio de Souza, figura respeitadíssima no meio jornalístico e que morreu no ultimo dia 25 de março, a revista destaca-se por diferenciar-se das demais que pertencem ao mainstream do mercado de publicações. Para seus críticos, é porta-voz dos esquerdóides mais rasteiros e não tem relevância. Discordo disso e me colocando entre os que admiram o trabalho da Caros Amigos - pelo menos o apresentado até agora.

Claro, é uma pena que a revista esteja enfrentando uam situação dessas. Mas essa história ainda precisa ser melhor esclarecida.

A saída conjunta e voluntária de dez funcionários em solidariedade ao secretário de redação, Thiago Domenici, demitido por telefone em 13 de junho - aliás, uma forma ridícula e covarde de se fazer isso, independente do motivo - é uma mostra de que algo realmente não andava bem na redação da revista.

Mylton Severiano, que assumiu a direção da revista com a morte de Sérgio de Souza, afirmou ao site Comunique-se que o motivo do problema é que Domenici se julgava o sucessor de Serjão na Caros Amigos, tendo como apoio a "ala jovem" da publicação. O motivo da saída de Domenici teria sido sua recusa em entrevistar a ministra Dilma Roussef, mandando uma repórter no lugar, sem comunicar a chefia.

Já o ex-secretário rebateu dizendo que não era possível mas dialogar na redação, "nem mesmo para discutir uma capa" e que Mylton, apesar de ser um grande editor, não consegue se relacionar com o rsto da redação.

Os outros dez demissionários afirmaram, segundo nota: "Nunca houve nenhum tipo de articulação e também nenhuma oposição ou tentativa de interferência ao processo de sucessão do editor. Em nenhum momento qualquer das pessoas que assinam essa carta duvidou que Mylton Severiano estivesse apto para assumir a direção da revista."

Levando em conta o que aconteceu, a versão de Mylton e o comunicado que os demitidos divulgaram, fico com os demissionários. E com a torcida de que a Caros Amigos mantenha o nível que a tornou respeitada no meio jornalístico - ao contrário do que pensam seus críticos.

Mas se ela realmente mudar - e para pior - , seus leitores e colaboradores fiéis vão perceber de pronto e provavelmente terão a mesma atitude dos demissionários. Com isso, perdem não só eles em espaço e fonte de informação, mas toda a imprensa brasileira.

terça-feira, 17 de junho de 2008

O buraco é mais embaixo

O caso da morte de três jovens do morro da Providência, Rio de Janeiro, encontrados mortos no morro da Mineira, tambem no Rio, é bem mais complexo do que pode parecer, levantando uma série de questões importantes no que diz respeito à segurança pública, papel do Estado e do Exército, entre outros.

O que os militares tinham que entregar os jovens aos traficantes do morro vizinho? Desacato à autoridade não explica e tampouco justifica a atitude tomada pelos onze infelizes. Até parece que há algum tipo de conchavo entre militares e criminosos - o que ja não e novidade entre alguns agentes policiais e até mesmo, por que não, políticos? Para tais elementos, em nome do poder vale tudo.

Qual o real papel do Exército? Constitucionalmente, ele não tem competência para tarefas como as que desempenha hoje no morro da Providência, tocando um projeto assistencial - que há quem aponte inclusive como uma medida eleitoreira de um possível candidato à prefeitura do Rio, para não citar os nomes.

Para variar, não vai adiantar nada ficar dizendo que o que os militares fizeram é lamentavel, abominável e etc, etc e etc, ou dizer que o Exército tá em crise. O ponto a ser questionado está bem mais embaixo: que política de segurança pública deve ser implantada? A que existe hoje - se é que ela realmente exista - é uma piada, uma mostra de incompetência, má vontade e covardia de enfrentar o problema de frente.

O fato: é mais do que urgente que seja discutida uma política de segurança publica séria, onde cada um tenha o seu papel de atuação muito bem definido e, sobretudo, que sejam criadas as condições necessárias para a implantação desse plano - financeira, psicológica, de inteligência, sociais, comunitárias, de respeito aos Direitos Humanos, de equipamentos, etc. Se o Exército teria ou não participação nessa política é algo a ser bem discutido. Uma política ampla, que atenda a todo o Brasil e não somente o eixo Rio-São Paulo - há outros locais do Brasil que sofrem com a violência: capitais como Recife e Vitória e as pequenas cidades da Amazônia que sofrem com outros tipos de criminosos que impõem seu poder paralelo.

Os locais são diferentes. Mas a sensação dos que vivem nessas áreas e sofrem com a repressão de uns e o descaso e omissão de outros é a mesma: medo. E uma crença cada vez menor em uma solução.

O que não dá

domingo, 15 de junho de 2008

Ditadura brasileira fez escola pelo mundo

Sob o título "Exército ensinou tortura a estrangeiros", a reportagem, publicada no caderno Brasil, falou sobre o Cigs (Centro de Instrução de Guerra na Selva), fundado em 1966, e que relembrou alguns dos oficias estrangeiros que apredeream em terras brasileiras técnicas de torura e combate à guerrilha. Segundo a reportagem, dentre os "ilustres" alunos que assaram pelo órgão, está o coronel francês Didier Tauzin, que em 1994 liderou a chamada operação Chimère, com a qual treinou secretamente oficiais hutus no combate às guerrilhas tutsis em Ruanda. O confronto étnico resultou num genocídio, com 800 mil vítimas.

A lista segue com outros militares de paises da América do Sul, que participaram de ações de repressão a grupos guerrilheiros contrários aos regimes vigentes, como Chile e Peru. Assinantes da Folha de S.Paulo e do UOL podem ter acesso ao texto completo e os demais que complementam a matéria acessando o link abaixo:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1506200812.htm

É, a ditadura brasileira e suas violações contra os Direitos Humanos fizeram escola pelo mundo...

No mesmo jornal, já no caderno Cotidiano da Folha, uma pequena nota tratou da morte do cadete Maurício da Silva Dias, de 19 anos, que morreu após passar mal em um treinamento militar da Academia Militar das Agulhas Negras (Amam), no sul do estado do Rio de Janeiro. Para assinantes, o link para a nota segue abaixo:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1506200821.htm

Durante a semana, a Amam foi alvo de críticas quanto às técnicas de treinamento que levaram ainda outros dois cadetes a serem hospitalizados e que atualmente estão sob observação.

É, ainda há um longo caminho para o Brasil - como sociedade, e para as instituições incumbidas de defendê-la - superar os efeitos e se limpar dos resquícios da ditadura militar que, ao contrário dos que defendem o período, pouco contribuiu para o desenvolvimento do país, tanto econômica como políticamente. E menos ainda para preservação dos direitos de cada cidadão, especialmente daqueles que tiveram a coragem de se posicionar frontalemente contra os abusos da ditadura militar.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Faroeste amazônico (ou por que não "Faronorte"?)

Um levantamento feito pela Agência Brasil divulgado em diversos veículos de mídia em 7 de abril (abaixo o link para o texto publicado no portal G1), o desmatamento na Amazônia está relacionado com a violência na região. Dos 100 municípios com maiores índices de desmatamento, 61 estão entre os que apresentam as maiores taxas de homicídio do país.

http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL19212-5598,00.html

A Amzônia hoje é, com o perdão do trocadilho, uma espécie de Faroeste sem glamour - ao contrário dos Estados Unidos, que romantizaram através do cinema e de séries de TV a matança contra índios e mexicanos que sustentou a expansão do território estadunidense rumo ao Oeste.

Poderes locais aproveitam a ausência do Estado para se impor e passam por cima daqueles que os afrontam. São eles posseiros, madeireiras, contrabandistas, aliciadores de menores e de mão-de-obra escrava são alguns dos "gêneros" que atuam nas terras sem lei ao norte do país. Irmã Dorothy Stang, morta em 2005, é um exemplo cabal - mas talvez só tenha obtido a repercussão que teve por tratar-se de uma cidadã estrangeira (dos Estados Unidos) morrendo em solo brasileiro. O mandante da morte da freira foi absolivdo em 6 de maio - o que mostra mais uma vez a falta de voz dos poderes legais na região - e a força do poder paralelo.

Enquanto isso, a Amazônia é ceifada e seus habitantes - o lado mais fraco da corda - sofrem nas mãos dos xerifes às avessas que tomam conta dos grandes pedaços de terra onde o Estado não se faz presente, não importa qual motivo. Em reportagem publicada no Globo Online (link abaixo), o bispo da Diocese da Ilha de Marajó (PA), dom José Luiz Azcona, afirmou que 300 pessoas estão marcadas para a morte no interior do Pará - ele próprio é um dos quatro religiosos ameaçados, junto com os bispos Flávio Giovanele e Erwin Krautler, além do padre José Amaro Lopes de Souza. Dos 300, cerca de 100 estão sob proteção do governo federal.

http://oglobo.globo.com/pais/mat/2008/05/06/bispo_denuncia_que_ha_300_pessoas_marcadas_para_morrer_no_para-427240969.asp

Uma das falas de Azcona na matéria é bastante esclarecedora, tanto para o poder público quanto para a mídia, e indica um caminho para que se comece a entender de fato o que se passa na Amazônia e o que deve ser feito para acabar com o poder paralelo lá existente e proteger seus habitantes: "Tem que ter uma mudança de mentalidade, uma convesão. (É preciso) Olhar para a Amazônia como a Amazônia é, não com os olhos de Brasília."

Complementando o pensamento do bispo, nem com os olhos de Brasília, nem com os de São Paulo, Rio de Janeiro....

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Apartheid social made in Brazil


Recém-inaugurado na cidade de Curitiba, o Shopping Palladium tomou uma atitude no mínimo questionável: na semana passada seguranças barraram a entrada de um grupo de jovens da periferia, vestidos com camisas de clubes e trajes de hip-hop (roupas exageradamente largas e bonés). O shopping fica localizado na zona sul da cidade, que concentra os bairros mais populosos e onde se concentra a população mais pobre. Motivo: evitar "baderna" e que indivíduos que possam representar "risco" entrem no local. Abaixo o link para a matéria no portal UOL.

O Ministério Público do estado do Paraná já avisou que vai investigar as denúncias, conforme nova matéria sobre o caso, também publicada no portal UOL: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2008/06/06/ult5772u58.jhtm
Detalhe: essa não é uma prática isolada. Outros shoppings da cidade fazem o mesmo. Um atentado ao direito de ir e vir, além de toda a discriminação social existente nessa atitude. É ainda mais vergonhoso para uma cidade que gaba-se de ser um exemplo de cidadania para todo o Brasil. Como se a simples atitude de barrar "elementos suspeitos" fosse suficiente para coibir eventuais casos de violência e vandalismo.
Um autêntico caso de Apartheid social. Made in Brazil.
Então jovens ditos de classe média alta não podem tornar-se bandidos e baderneiros e causar tumulto e representarem risco a outras pessoas? Exemplos recentes - mas que infelizmente são deixados de lado pela amnésia crônica da sociedade brasileira - mostram justamente o contrário. Índio Galdino queimado vivo em Brasília, filhos de políticos e empresários atirando coisas em quem passava pelas calçadas da praia de Copacabana, enfim, dá para ficar o dia inteiro aqui elencando exemplos de vandalismo e de crimes cometidos por pessoas "bem-educadas, esclarecidas, conscientes"... So faltou dizer: "você é rico, então é bom; já você é pobre, não presta".
A sociedade brasileira ainda têm muito o que aprender... Mas ainda mantenho a esperança de que ela um dia aprenda que não será se escondendo em suas casas ou tentando formar clubes fechados que passem a impressão de que se vive em um mar de rosas que ela resolverá os problemas sociais que a cercam. Mantenho a esperança de que um dia ela aja de fato como uma sociedade.