terça-feira, 31 de agosto de 2010

A “brilhante” ação de sábado da PM, em Heliópolis

No último sábado, a TV Record exibiu uma reportagem na favela de Heliópolis, a maior de São Paulo, mostrando como a PM acabou com uma boca de fumo no local. A estratégia adotada: policiais se passaram por candidato e cabos eleitorais para se aproximar da comunidade e descobrir quem chefiava a boca de fumo.

Na matéria, a ação foi retratada como de um grande sucesso, como se o tráfico em Heliópolis acabasse após o episódio. Mas não é preciso muito esforço para perceber como esse “peixe vendido” está estragado. Vamos aos fatos:

1 - A maior favela de São Paulo não tem apenas uma boca de fumo. Aliás, Heliópolis tem suas próprias subdivisões, e o ponto de venda estourado é apenas um deles, existente em uma dessas subdivisões. Os demais permanecem, ao que parece, intactos

2 – A “tática usada”, de se passar por cabos eleitorais. De início, já é um erro divulgar a estratégia usada para debelar um crime, uma quadrilha e afins. Uma superestimação que, na verdade, não mostra a “inteligência” da polícia, mas justamente a falta da mesma. Em um jogo de xadrez ou de pôquer, você revela suas armas, sua estratégia para ganhar o jogo? Elementar que não...

3 – ainda sobre a brilhante tática adotada pela PM: agora, será bem complicado para um candidato bem intencionado – sim, eles são minoria, mas de fato existem – fazer campanha em Heliópolis. Como a comunidade vai saber se são candidatos ou policiais disfarçados? E quem ganha com esse jogo são os criminosos...

Há outros pontos falhos na “bem sucedida” intervenção da PM em Heliópolis, mas os três já citados mostram que a corporação tentou, literalmente, jogar para a torcida e mostrar serviço. E também para perceber que esta ação foi um belo tiro n’água.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Iniciativa rara, precedente positivo

Se o post anterior fala de um precedente perigoso, agora aí vai um daqueles que podem ser amplamente positivos

Em uma iniciativa rara, o Ministério Público de SP pede o seqüestro de R$ 162 mil apreendidos de um integrante da facção criminosa PCC em 2005. O dinheiro seria usado para garantir indenização à família do bombeiro João Alberto da Costa, morto em maio de 2006 durante um ataque da organização.

A expectativa é de que a decisão, caso seja favorável, abra precedente para que outros agentes policiais, civis ou militares, ou mesmo pessoas comuns, possam ser indenizadas por prejuízos decorrentes de atos criminosos.

“É necessário que a sociedade saiba que qualquer lucro, qualquer bem oriundo de atividade de organização criminosa poderá e será utilizado para o ressarcimento de danos e pagamento de indenizações a policiais – civis ou militares – que porventura tombem na defesa da sociedade, bem como de pessoas honestas que sejam também atacadas pelo crime organizado”, diz o promotor de Justiça Carlos Roberto Marangoni Talarico, autor da ação, em reportagem do UOL Notícias. A matéria pode ser lida por meio do link abaixo:

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2010/08/24/mp-pede-sequestro-de-r-162-mil-do-pcc-para-indenizar-vitimas-de-ataques.jhtm

OK, até agora a iniciativa merece palmas. Se a Justiça acatar a decisão, pode gerar um precedente positivo. Mas ela também valeria para as 493 pessoas que morreram após a reação da PM aos ataques do PCC em maio de 2006? Ou os familiares das vítimas dos chamados Crimes de Maio continuariam à margem do processo de apuração das mortes?

Aí está uma boa pergunta que não quer calar, mesmo que insistam em mantê-la silenciada

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Precedente perigoso

Após uma série de assaltos a shoppings de São Paulo nos últimos meses, alguns centros de compras da cidade resolveram adotar a solução mais “rápida” contra a insegurança gerada pelos crimes: colocar segurança privada armada para proteger lojas e consumidores.

Essa solução, aparentemente a mais prática, rápida e efetiva a ser tomada, está longe de ser a melhor.

Ao que parece, a maioria da população já se esqueceu do ocorrido com o aposentado Domingos Conceição dos Santos, de 47 anos, que foi morto por um segurança particular armado ao tentar passar pela porta giratória de uma agência bancária em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo. Barrado por possuir um marca-passo, o aposentado discutiu com um dos vigilantes da agência, que atirou contra a cabeça de Domingos.

Para refrescar a memória, aí vai a notícia sobre a morte de Domingos:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u733229.shtml

Logo após a tragédia, mais uma vez falou-se na questão da segurança privada, mas o episódio logo foi esquecido – pessoa pobre, zona leste da capital, pouco elementos que ajudam a fixar o fato na memória popular.

Agora, após o caso dos shoppings, a segurança armada privada aparece como solução para garantir a integridade de consumidores e lojistas – até a próxima tragédia, naturalmente...