sábado, 15 de novembro de 2008

Como um doente em estado de depressão

A crise que se abate sobre o mercado financeiro internacional tem tirado o sono dos defensores do neoliberalismo, que se vê claramente diante de um abismo. Ele parece mais um doente em estado depressivo: alterna momentos de grande euforia com estados de melancolia profunda. É justamente em casos como esses que aparecem alguns fatos curiosos da política pelo mundo e como eles são encarados de diferentes formas, dependendo do lugar onde eles ocorrem.

A sempre repudiada presença do Estado no mercado – especialmente o financeiro – foi, ironicamente, a única saída encontrada para salvar o sistema de uma reação em cadeia que o levaria a um colapso – e ainda não há plena certeza de que essa medida será suficiente. Grandes bancos e empresas faliram ou foram socorridos pelo Estado, que passou a controlar essas instituições. O caso da seguradora AIG, nacionalizada pelo governo dos Estados Unidos, é talvez o exemplo mais marcante. Há ainda quem insista em dizer que a atual crise é passageira e que em alguns anos os mercados vão recuperar as perdas decorrentes do colapso que está em curso. Mas até mesmo entre os neoliberais já há quem diga que 'acabou a farra de Wall Street'.

O mais curioso é que essa reação à nacionalização das empresas é completamente oposta a iniciativas recentes que aconteceram na mesma direção, em países como a Bolívia ou a Venezuela. Ao contrário, receberam duas críticas da comunidade internacional e foram interpretadas como uma intromissão desnecessária no mercado e na iniciativa privada. Enquanto isso, até os neoliberais mais convictos e incorrigíveis engoliram seco as iniciativas de nacionalização, que agora também ganham força na Europa. Em especial na Inglaterra, berço do Estado mínimo, que vai recapitalizar três dos maiores bancos do país.

Há quem insista em dizer que nacionalização é uma coisa e estatização é outra, com o intuito de diferenciar as ações promovidas nos países ricos pelos do terceiro mundo. A rigor, não há grande diferença, já que em ambos os casos o Estado marcou sua presença para evitar descaminhos na instituição, seja entrando como sócio ou assumindo o controle da empresa.

Esta é uma das contradições pouco exploradas pela mídia. Mas há ainda outros pontos que pedem para ser melhor esclarecidos. A cobertura da mídia não vai à raiz da crise, que está no próprio sitema financeiro; não toca na questão de que nunca houve uma concentração tão grande de riqueza em mãos privadas

Assim, a mídia torna-se uma mera reprodutora dessa 'lógica', em vez de ter um olhar crítico sobre esse aspecto. E, ao manter-se presa a isso, perde-se facilmente tantas vezes quantos solavancos o mercado financeiro apresentar.

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