Tarde de terça-feira, 15 de junho de 2010. A hora do rush começa mais cedo em São Paulo, por volta das 12h. Motivo: quase todos tentam garantir um lugar para assistir à estreia do Brasil na Copa ,que aconteceria às 15h30, frente à fraca seleção da norte-coreana .
Críticas à “seleção de volantes” ficam para trás. O que importa agora é chegar em casa o quanto antes e torcer pelo Brasil.
Que bela mostra de nacionalidade, de orgulho em ser brasileiro!
A cidade fica enlouquecida. Estabelecimentos fecham mais cedo, ruas ficam entupidas –
mais de 200 km de lentidão nas ruas paulistanas, faltando uma hora para o jogo. Uma mistura de hora do rush no asfalto com fim de tarde de domingo nas calçadas e lojas.
Abertos, apenas os milhares de bares e botecos que receberão público para o jogo.
Empresas dispensam funcionários, enquanto outras montam estruturas que permitem ao empregado não perder um lance do jogo. Demonstração de bondade dos patrões que só é possível notar em época de Copa.
Mais uma amostra de nacionalidade, de orgulho em ser brasileiro!
Pouco a pouco o caos no trânsito dá lugar a um aspecto de cidade-fantasma, o clima de feriado das calçadas se instala no asfalto. Quase todos estão em casa ou em algum bar ou mesmo no trabalho acompanhando o jogo. Para quem ainda está no meio do caminho, nada que os telefones celulares, ‘mp’s em geral ou mesmo a boa vontade do próximo em dividir seu fone de ouvido ou mini-televisor não resolva...
Outra amostra de nacionalidade, de orgulho em ser brasileiro!
O jogo é decepcionante, mas termina com vitória brasileira por 2 a 1. Quase uma Vitória de Pirro, daquelas que têm o gostinho amargo da derrota e do “muito mais poderia ser feito”. Mas é só a estreia na Copa, ainda há ao menos mais dois pela frente. Isso sem contar as prováveis oitavas, quartas de final, semi e finalíssima. Nas horas antecedentes de cada jogo – exceção feita aos que caírem aos domingos – é bem provável que o cenário se loucura, caos e companheirismo se repita.
Mas esse sentimento nacional do brasileiro, sentido nas ruas e reforçado pelas propagandas de cerveja, bancos, telefonia celular e etc, continuará depois da Copa? A julgar pelas Copas anterioes, com ou sem título, a euforia é passageira. O efeito da anestesia chamada seleção brasileira passa, os problemas ficam. A indiferença política do brasileiro também, e com ela as eternas reclamações de que “esse país não vai para frente".
Ou seja, no geral – porque sempre tem aquele que torcerá para a Argentina, Alemanha ou mesmo para a gloriosa Eslovênia – brasileiro é Brasil até morrer, no máximo, até a semana de 11 de julho, data a da final da Copa. Após essa data, as mostras de nacionalidade, de orgulho em ser brasileiro ficam de lado e voltam a predominar o marasmo e a indiferença sócio-política da maioria da população.
Nacionalismo com prazo de validade...
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