O portal WikiLeaks vem colocando a política internacional em polvorosa ao divulgar, desde o último dia 28 de novembro, cerca de 250 mil documentos secretos emitidos por representações diplomáticas dos EUA de todo o mundo. O vazamento expõe as vísceras da política internacional e questiona a existência de liberdade de expressão.
O WikiLeaks foi lançado em 2006 e desde o ano seguinte divulga informações que considera importantes para o público – e de conteúdo bombástico. Entre as principais, estão abusos e denúncias de torturas cometidos por militares dos EUA no Iraque e no Afeganistão. É coordenado pelo jornalista e ciberativista australiano Julian Assange e conta com uma extensa rede de colaboradores pelo mundo, que fornecem os dados que são pouco a pouco revelados pelo site.
Desde que começou a publicar os documentos, o WikiLeaks e seu criador estão enfrentando uma pressão crescente, tanto de governos quanto de empresas. A Amazon Web Server, por exemplo, baniu o site de seus servidores – a pedido do senador republicano estadunidense Joe Lieberman. O parlamentar, aliás, diz que os jornais que publicaram documentos divulgados pelo WikiLeak podem ser investigados sob acusação de violar as leis de espionagem dos EUA.
Para o governo estadunidense, “vidas de diplomatas são colocadas em risco” com a divulgação dos documentos. Outro a criticar o WikiLeaks foi o Reino Unido, por meio do porta-voz da residência oficial do premiê David Cameron. "Os vazamentos e sua publicação são prejudiciais para a segurança nacional nos EUA, no Reino Unido e em outros lugares. É vital que os governos possam operar com base na confidencialidade da informação", destacou.
A mídia se divide entre o aplauso e a condenação ao vazamento promovido pelo site. Mas parte dos veículos e comentaristas veem no WikiLeaks uma amostra de jornalismo e de transparência. Prova disso são os dois prêmios que o portal já recebeu desde a sua criação, o New Media Award, da revista The Economist (2008), e New Media Award, da ONG Anistia Internacional (2009).
Alguns servidores que hospedavam o WikiLeaks, como o estadunidense Amazon, tiraram o site do ar. Para Assange, colocar o WikiLeaks lá foi de “propósito”, para mostrar que a liberdade de expressão, tão apregoada nos EUA, é uma piada. No entanto, redes de simpatizantes do site fazem campanha em prol do portal. Sites espelho são criados com o conteúdo do site original e provedores de outros países se prontificaram a abrigar o WikiLeaks – até o momento, o conteúdo está hospedado em um servidor suíço e disponível no seguinte endereço: http://wikileaks.ch/
O teor dos documentos revelados no último dia 28 de novembro podem não chegar a representar uma surpresa – apesar de sigilosos, não chegam a ser considerados “top secret”, que tratam de segredos de Estado. Mas os dados divulgados pelo WikiLeaks ratificam impressões já existentes quanto à atual única superpotência global. Em especial, a pobre visão que detêm da conjuntura internacional, demonstrada pelos comentários preconceituosos – às vezes até infames – de personagens conhecidos no cenário internacional. Entre eles, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, considerado “maluco”; o premiê russo Vladimir Putin e o presidente Dmitri Medveedev chamados de “Batman” e “Robin”, respectivamente; e questionamentos sobre a saúde mental da presidente argentina, Cristina Kirchner.
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