Literalmente, a dor virou espetáculo. O caso da morte da menina Isabella Nardoni, de 5 anos, explicita que a imprensa brasileira em geral, apesar de ter obtido avanços, ainda não sabe como lidar com questões ligadas à violência, especialmente os que causam grande comoção nacional.
Desde que a morte da menina começou a se configurar como um escândalo, alertou-se para que a cobertura não cometesse os mesmo erros do caso Escola-Base, onde o pré-julgamento do acusados quase acabou com a vida dos envolvidos. Pouco tempo depois, quando foi comprovada a inocência dos envolvidos, o estrago já estava feito. E no caso Isabella, mesmo considerando-se que foram obtidos certos avanços na cobertura de casos de violência, erros primários continuam a ser cometidos. Na ânsia de achar logo um culpado e dar vazão aos apelos da opinião pública, a imprensa mais uma vez se limitou aos fatos – os mais explosivos, inclusive –, com matérias que em nada contribuíam para um maior esclarecimento da questão, arrogando-se a uma função que não cabe a ela, mas sim à Justiça: o de julgar os culpados.
Foram raras as matérias que deram um enfoque diferente para a questão. Uma delas, da Folha de S.Paulo, falava do impacto do caso na mente das crianças e orientava os pais a como poupar seus filhos do pior da cobertura. Esforço que em grande parte acaba sendo em vão, quando até mesmo os jornais matutinos e da hora do almoço optam por uma abordagem em geral tendenciosa e sensacionalista do caso. No dia 19, sexta-feira, uma matéria do UOL pela primeira vez usa o termo “espetáculo” para designar o circo armado em torno da questão. Apesar de todas as evidências apontarem para a culpa do casal, a postura adotada pela imprensa não dá margem para outra possibilidade. Logo, um novo caso Escola-Base.
Pior de tudo, a imprensa parece esquecer, que independente de serem culpados ou inocentes, estão lidando com pessoas. Culpados ou inocentes, todos os envolvidos tem direito à privacidade, mas esse aspecto parece que se perdeu em meio à cobertura. Jornalistas e curiosos acampando em frente ao prédio onde ocorreu o crime, na calçada da casa dos pais da mãe de Isabella, na frente da casa da família Nardoni. Até quem não tem nada a ver com o caso, como os vizinhos por exemplo, acabam pagando o pato. Em uma comparação grosseira, a imprensa tem-se comportado como um abutre esperando pela carniça. A dor, a Via Crucis virou circo.
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