quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Modelo de UPPs do Rio patina na Colômbia

A experiência de combate ao crime adotada em Medellín, considerada modelo para as UPPs do Rio de Janeiro, já dá sinais de esgotamento. A taxa de homicídios na cidade, que entre 2002 e 2007 caiu de 184 para 33,8 por 100 mil habitantes, tem subido desde então, chegando a 94,5 no ano passado. A informação vem de matéria publicada no jornal Folha de S.Paulo no último domingo, dia 2.

Enquanto isso, o clima entre as autoridades do Rio se assemelha a uma espécie de “tá tudo dominado” – parafraseando um velho funk carioca – com o atual sucesso de opinião pública e mídia das unidades. Nesta quinta-feira será instalada a 14ª UPP da cidade, que atenderá as favelas São João e do Quieto - tudo com ampla cobertura da imprensa e anunciada com pompa pelo governador do Rio, Sérgio Cabral.

Com o crescimento das taxas de homicídio, especialistas no país vizinho já questionam o que até então era considerado uma receita de sucesso no combate à criminalidade. Segundo a matéria, o consenso por lá é que a queda nos índices foi provocada muito mais por uma trégua entre as facções criminosas, que suspenderam as disputas internas em prol da manutenção do negócio, do que à presença das forças policiais em si.

Perguntinha que não quer calar: qual a garantia de que o mesmo não está ocorrendo no Rio? Até agora o governo fluminense não divulgou um balanço completo das prisões feitas nas operações do final de novembro. O paradeiro de muitos traficantes que atuavam nas comunidades agora “retomadas pelo Estado” continua desconhecido.

E mesmo em Medellín a presença de forças policiais não levou todos os criminosos a deixarem as comunidades ocupadas.

Em uma visão mais otimista, o que acontece em Medellín serve de exemplo ainda maior para as UPPs do Rio e outras políticas de segurança pública no Brasil ao mostrar também os limites de alcance dessa iniciativa. Um artigo do site Observatório de Favelas faz uma boa análise da iniciativa, apontando também as bravatas do governo estadual no setor e questionando o futuro das comunidades após o fim das UPPs.

Mas as autoridades parecem ignorar ou fazer vista grossa sobre esse “tendão de Aquiles”. E o resultado que tal omissão do poder público pode ter já é bem conhecido.

Um comentário:

Renata disse...

Ótima matéria e excelentes observações. Parabéns!