Na hora de tentar encontrar soluções para os problemas existentes no Brasil, uma saída bastante utilizada é se basear em experiências ocorridas em outros países sobre como lidaram com a questão e os progressos obtidos. Os exemplos vindos de fora servem tanto como fonte de inspiração como também, em certos casos, são aplicados total ou parcialmente por aqui.
As tão faladas UPPs, por exemplo, são inspiradas na experiência de Medellín (Colômbia) no combate à criminalidade – apesar do modelo já apresentar desgaste tanto por lá como aqui, conforme já relatado em posts anteriores deste. O jornal O Globo publicou, no final de outubro, uma série de cinco reportagens denominada “Deu certo lá fora”, com iniciativas tomadas mundo afora em áreas como educação, saúde e segurança pública – tema extremamente sensível na capital e no Estado fluminense – e que poderiam servir para o Brasil.
Foto de Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Mas, o simples fato de dar certo lá fora significa que a iniciativa, independente da área, terá sucesso no Brasil? Cravar uma resposta é tão complicado quanto ganhar na Mega-Sena. Afinal, não há nada contra em se inspirar em iniciativas que deram certo no exterior. O grande problema é que, ao tentar implantá-las na integra por aqui, sem levar em conta o contexto e a realidade do local, podem trazer mais danos do que benefícios.
Quando se fala em questões referentes à criminalidade, há outro fator que não pode ser desprezado jamais: a capacidade que atividades ilícitas e criminosas têm de burlar a lei e crescerem mesmo com uma fiscalização eficiente. Mais uma vez as UPPs e a “matriz” colombiana são exemplo disso. Após cinco anos seguidos de queda, a taxa de homicídios voltou a crescer em 2007 e mantém tendência ascendente. Neste caso, a experiência de Medellín é didática também por mostrar o real alcance e as limitações que a iniciativa de policiamento adotada por lá possui – e uma dos erros mais bisonhos sobre a UPP é apontá-la como tábua de salvação da política de segurança pública. Sozinha, pouco ou nenhum efeito terá, inclusive tornando efêmeros os ganhos até agora obtidos.
O setor de transportes é outro no qual soluções estrangeiras são corriqueiramente “tiradas da manga” como fórmulas mágicas que prometem resolver ou minimizar os problemas da área. Em âmbito nacional a maior delas é o trem-bala, que ligaria Campinas (SP), São Paulo e Rio de Janeiro. A ideia é bela no papel, mas revela uma gritante contradição brasileira, já que o setor ferroviário foi relegado a segundo plano no processo de crescimento e integração do território brasileiro. Seu lugar foi ocupado pelo transporte rodoviário, mais caro e menos eficiente, e a conta por essa política já se apresenta bem salgada nos dias atuais.
Reprodução de Wallpaper
Aplicar no Brasil medidas que funcionam em outros países seria então inviável? Nada disso. O real erro consiste em tentar implantá-las na íntegra, sem levar em conta o contexto histórico, social e econômico do país. É preciso respeitar essa série de fatores, assim como um médico precisa levar em conta todo o histórico e os sintomas que um paciente apresenta na hora e receitar o tratamento adequado para este ou aquele problema.
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