domingo, 7 de dezembro de 2008

Linhas, sinais e vidas cruzadas


Um mundo de dados, informações, palavras e vozes passam diariamente bem diante de seu nariz. E não os confunda com os que você costuma ver ou ouvir ao andar em megalópoles caóticas como São Paulo. Até porque não é possível enxergá-lo. Para ouvi-lo, só com aparelhos especiais. É um trânsito invisível a olho nu, mas que não deixa de existir por isso.

Ele é composto por redes de Internet sem fio, transmissão de dados via celular, sinal das rádios comerciais, piratas e comunitárias, walk-talkies, entre outras.. Ou seja, existe no ar paulistano muito mais do que oxigênio, nitrogênio e doses excessivas de monóxido e dióxido de carbono e outros poluentes.

Claro, esse trânsito não se dá sem trombadas, atropelos ou qualquer outro tipo de interferência. E se esse emaranhado de dados não circular com um mínimo de planejamento, traz problemas graves e algumas aberrações que rendem histórias engraçadas de um lado, e expõem irregularidades do outro.

No caso das rádios, ele fica bem evidente pelo caos que é o espectro paulistano (por onde circulam os sinais, também conhecido como dial). Ao todo, 39 emissoras comerciais transmitem sua programação para a cidade de São Paulo, a maioria delas na região da avenida Paulista. Mas, na verdade, nem todas as emissoras que operam em São Paulo são paulistanas ou poderiam transmitir para a capital. Há rádios cujas sedes e/ou antenas de transmissão estão registradas em cidades vizinhas como Guarulhos, Arujá, Mogi das Cruzes ou até mesmo Itanhaém, no litoral paulista, o que é ilegal segundo a legislação vigente no país. Essa artimanha usada para driblar a lei acaba por sobrecarregar o dial de São Paulo, o que contribui para aumentar a confusão.

Essa aberração produz o seguinte efeito: enquanto os sinais se acotovelam na bagunça do dial buscando sonorizar seu conteúdo nos aparelhos de som, o ouvinte trava uma batalha com o botão que muda de uma estação de rádio a outra. E muitas vezes acaba sem conseguir aquela sintonização perfeita da emissora onde é veiculado seu programa favorito.

Um exemplo de onde isso ocorre é a avenida Paulista, local de maior concentração de emissoras de rádio na cidade. Quanto mais chega-se perto e adentra-se nesse corredor de concreto considerado cartão-postal de São Paulo, pioram os sinais das rádios. Em vez da música preferida, o que chega ao ouvinte são chiados ou um sinal intermitente. O que não deixa de ser irônico, pelo fato dos sinais estarem tão próximos do transmissor de sua origem.

O ar também é povoado pelos sinais emitidos pelos milhões de aparelhos de telefone celular em operação. São 140 milhões em todo o território nacional, 60 milhões deles só em São Paulo. O iPhone 3G, mais nova coqueluche no mercado, deve ajudar a aumentar esse número.

Sinais se trombam, ligações se cruzam, e na mesma hora que um executivo inicia uma chamada importante para fechar aquele negócio com uma multinacional, um “boi” daqueles pode entrar na linha e ele então perceber-se ouvindo a briga de um casal pelo celular.


Em um mundo cada vez mais virtual, onde o próprio ar faz cada vez mais a função antes desempenhada apenas pelos fios de cobre ou pela fibra óptica, o caso corrido com Rafael não deixa de ser uma maneira de engraçada de vidas se cruzarem nesse cotidiano plugado de século XXI.

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