terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Sobre a condenação de Daniel Dantas

O texto abaixo, do meu amigo João Villaverde, é uma bela análise da condenação de Daniel Dantas, anunciada hoje, e do que pode acontecer no decorrer dessa história que mexe com as estruturas arcaicas desse país - e que é do interesse de certos poderosos que se mantenha assim.

Estamos chegando no clímax de uma história que começou nos anos 80 e que veio ao mundo em 1997. São 11 anos de conchavos entre empresários, banqueiros, políticos, jornalistas, policiais e juízes. Em 1997, o banco Opportunity, criado por Dantas, pagou apenas 250 milhões de reais pelo porto de Santos, o maior da América Latina. Em apenas um dia, o porto de Santos movimenta mais dinheiro que seu valor de venda.

Em 1998, o Opportunity aglutinou o dinheiro do Citibank - então o maior banco privado do mundo -, dos fundos de pensão de estatais, e da Telecom Italia - pertencente ao maior grupo empresarial italiano - e arrebatou a Brasil Telecom, nos leilões de privatização da telefonia brasileira.Na época, arapongas da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) grampearam o BNDES e o Ministério das Comunicações (que estavam organizando as privatizações) e descobriu-se uma manobra política, que envolvia inclusive o presidente Fernando Henrique Cardoso, para permitir a ação de Dantas.Não aconteceu nada porque os grampos foram feitos sem autorização da justiça. E quando isso ocorre, segundo a legislação brasileira, as provas perdem validade.

A partir daí uma série de casos e abusos aconteceram. Dantas iniciou sua cooptação direta de políticos e, mais grave, de jornalistas. Segundo consta nos relatórios da Operação Satiagraha, foram mais de 18 milhões de reais em propina à jornalistas. Alguns são citados: Diogo Mainardi e Lauro Jardim na Veja, Leonardo Attuch na IstoÉ, e Janaína Leite na Folha.

Existem processos contra Dantas no Brasil, nos Estados Unidos (movido pelo Citibank) e na Itália (movido pela TI). Dantas nunca foi condenado. A única que vez que perdeu alguma ação na Justiça foi em 2005, quando a juíza Márcia Cunha, da 2ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, ordenou que o Opportunity se afastasse da direção da Brasil Telecom, por gestão fraudulenta. Depois dessa decisão, o marido de Márcia recebeu três propostas milionárias para trabalhar no Opportunity, numa clara indicação de suborno ideológico. Ele não aceitou. Márcia foi à imprensa apontar o que Dantas estava fazendo nos bastidores. Nunca mais se ouviu falar de Márcia Cunha.

Mas foi só. Dantas nunca foi condenado.

Foi hoje.

Mas ainda não chegamos no clímax do caso Dantas. O juiz que condenou Dantas hoje, Fausto De Sanctis, será julgado, ainda essa semana, pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Pois é, juiz julgando juiz. Por que? Porque De Sanctis expediu dois mandados de prisão contra Dantas, em 08 e 10 de julho últimos, contra a vontade do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. O STF é o órgão máximo do Judiciário brasileiro. A ação movida contra De Sanctis, que será julgada pelo CNJ, foi perpretada pela defesa de Daniel Dantas. Quem é o presidente do CNJ, o homem que decidirá o destino do homem que condenou Daniel Dantas depois de quase 20 anos de abusos? Gilmar Mendes.

Mas isso é coincidência.


Mais informações:

Condenação de Dantas:http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u474156.shtml

Decisão do CNJ:http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u474147.shtml

Fausto De Sanctis:http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3367172-EI6578,00-Em+decisao+De+Sanctis+pede+respeito+no+processo.html

Satiagraha:http://oleododiabo.blogspot.com/2008/11/o-brasil-da-satiagraha.html

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