segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Uma Justiça que tarda. E falha

Enterrar os filhos mortos. Pode parecer pouco, quase nada. Mas foi o que restou para mães de dezenas, centenas de jovens mortos por policiais no país, em especial nas periferias das grandes cidades. Inocentes, foram vitimas da desiguldade social e dos estereótipos - em geral negros, pobres, quase que automaticamente associados a bandidos. Protegidos por termos como "auto de resistência" ou "resistência seguida de morte", maus policiais abusam da autoridade que possuem e adotam a política de "atirar primeiro e perguntar depois".




Entre esses casos, está o de Terezinha. Seu filho caçula, Roberto Aparecido Ferreira, de 20 anos, foi morto em 5 de maio de 2008 pelos Highlanders, grupo de exterminio formado por policiais militares que atuava na zona sul de São Paulo e em municípios vizinhos como Itapecerica da Serra e Embu. A história foi relatada no jornal O Estado de S.Paulo do último domingo (6).

A mãe de Bebé, como o jovem era conhecido, quer ao menos dar um enterro digno ao filho, enterrado como indigente dias depois do assassinato. Mas, passados quase três anos do crime, nem isso ela conseguiu. Devido ao adiamento em uma semana do julgamento de três integrantes dos Highlanders, que estava marcado para 11 de março, foi adiado em uma semana. Enquanto isso, a Justiça não permitiu que o corpo do jovem seja exumado e transferido para outro cemitério antes do julgamento para evitar que os advogados tentem anular o processo, já que o corpo é prova material do crime.

O caso é mais um exemplo de uma Justiça que tarda. E falha. Afinal, passados quase três anos do assassinato de Roberto, os culpados ainda não foram sentenciados e o jovem permanece enterrado como indigente.

Felizmente e infelizmente Terezinha não está sozinha. Felizmente porque ela está no mesmo patamar de outras mães e parentes próximos que usam a dor que sobrou da perda de entes queridos como combustível na luta para ver os assassinos punidos ou para "apenas" poder se despedir deles de uma forma digna. Para tal, enfrentam desde a morosidade da Justiça até mesmo ameaças de morte. Algumas dessas guerreiras acabam se juntando a outras e passam a lutar contra a impunidade em casos semelhantes, prestando apoio mútuo. O livro "Auto de Resistência", já citado neste blog, reúne dezenas dessas histórias.



Mas infelizmente Terezinha não está sozinha porque, assim, engrossa a lista de pessoas que tem suas vidas duramente mudadas da noite para o dia devido à violência causada por aqueles que, em teoria, deveriam proteger o cidadão, independente da condição social.

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