Essa matéria que saiu na Folha de S.Paulo de hoje (20/02/08) traz um assunto bizarro. O deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP-RJ) porpões que o uniforme preto e a caveira do Bope (Batalhão de Operações Especiais), que ficou conhecido no Brasil e no exterior por causa do filme "Tropa de Elite" se tornem partimõnios culturais do Rio de Janeiro.
Na matéria da Folha, o cineasta José Padilha, diretor de "Tropa de Elite", que acabou de vencer o Urso de Ouro em Berlim, recebeu com risos a notícia do projeto de lei e afirmou que os deputados deveriam se preocupar com problemas mais relevantes. E completou: "Eu acho que o símbolo do Bope representa bem o que ele é. Afirmar o símbolo como patrimônio cultural é aceitar a derrota da segurança pública".
Concordo com a afirmação de Padilha, apesar de muitos considerarem "Tropa de Elite" um filme fascista. Sua declaração na matéria da Folha é coerente com outras afirmações que ele já deu em entrevistas por aí afora, como no Roda Viva em outubro de 2007. Sabatinado por jornalistas, pesquisadores e especialistas em segurança pública, o cineasta disse que queria denunciar um sistema de segurnaça pública que não funciona de fato, que é fracassado, e que isso se reflete nas crises que o próprio Capitão Nascimento, defensor desse método que falhou, sofre durante o longa.
Eu pessoalmente, logo após assistir ao filme (e antes da entrevista de Padilha) no Roda Viva, tive a mesma sensação, de que esse sistema de somente reprimir com violência a própria violência não funciona de modo algum. Mas sou obrigado a admitir que esse filme surtiu, em uma parcela significativa da população brasileira, o efeito contrário do que esperava o diretor do longa. Capitão Nascimento tornou-se para muitos um "herói nacional", é comparado a Chuck Norris e o querem como o próximo presidente do Brasil. O Bope é tomado como um modelo de ação a ser seguido e coleciona admiradores tanto no meio do povo como entre políticos que prezam "a lei e a ordem" - às vezes a qualquer preço. É o caso de Flávio Bolsonaro e seu partido, que congrega ainda outros políticos de pensamento retrógrado e fósseis vivos da ditadura militar no Brasil - e que, aliás, devem sentir falta dela.
O assunto é por demais complexo e amplo, e o conteúdo postado neste blog é apenas mais um grão acrescentado nesse universo. Falem o que quiser de "Tropa de Elite", mas o filme teve o mérito de levantar - agora da perspectiva policial, por mais reprovavel que seja a postura do Bope - a temática da violência urbana e do combate à mesma. Uma coisa sou obrigado a concordar com o Capitão Nascimento: ou você se omite, ou se corrompe ou vai à guerra. O que o célebre personagem esqueceu é que há outras formas de se lutar nessa guerra - formas muito melhores, mais adequadas do que uma repressão pura e simples, violenta.
Esse assunto, que me interessa pessoalmente, será retomado com freqüência neste blog. Em breve.
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